segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Adeus

Confesso que quando você chegou eu não esperava muito de ti, as preocupações eram muitas, as dúvidas eram grandes, havia incerteza, uma certa ameaça pairava no ar, não me sentia confiante naquele momento.

Algumas expectativas se concretizaram, alguns desafios foram vencidos, algumas batalhas continuam sendo travadas; mas o fato é que nosso relacionamento está chegando ao fim. Que não me ouçam, estou feliz por isso.

Nem tudo foi ruim, óbvio. Mas estou um tanto saturado da tua presença, preciso não ter mais você por perto. Tivemos bons momentos, conquistas, alegrias, sem contar o quanto você me ajudou a amadurecer, tanto pessoal quanto profissionalmente. Disso eu irei me lembrar o resto da vida.

Mas não podemos seguir juntos por mais tempo, para mim é impossível; e eu também não gostaria que continuássemos juntos mesmo que fosse. Desculpe, estou sendo sincero para que você entenda que é importante para mim seguir em frente, vivenciar outros relacionamentos como este, muitos se possível for!

Não me leve a mal, terei você no meu pensamento sempre, contarei nossas histórias àqueles que estiverem dispostos a ouvir; e àqueles que não tiverem, direi que valeu à pena.

Não quero parecer sentimental demais, por isso opto por encerrar por aqui.

Obrigado por tudo!

Adeus 2009!!!


sábado, 19 de dezembro de 2009

Flash Mob


Acredito que nem todos saibam o que é Flash Mob. Eu aprendi recentemente, desculpem o atraso!

Wikipedia: Flash Mobs são aglomerações instantâneas de pessoas em um local público para realizar determinada ação inusitada previamente combinada, estas se dispersando tão rapidamente quanto se reuniram. A expressão geralmente se aplica a reuniões organizadas através de e-mails ou meios de comunicação social.

Achei (em alguns casos) a mobilização de uma criatividade e brilhantismo ímpares. É bem verdade que ao navegar pelo Youtube você vê todos os tipos possíveis dessa mobilização, mas poucos saem da mesmice.

Estava vendo um programa da Oprah (sem julgamentos, por favor, estou de férias e tratava-se de uma pesquisa antropológica particular) e em um evento de abertura de temporada, ao vivo, no meio de Chicago, durante uma apresentação do Black Eyed Peas, deparei-me com aquilo. Era como se houvesse uma contaminação que se disseminava e fazia com que todos (era muita gente!) participassem daquela apresentação. Fiquei espantado (assim como ela, que não sabia e nem esperava por aquilo) com a mobilização e a organização, tanto de quem orquestrou quanto de quem participou.

Coloquei o link abaixo para que possam dar uma olhada.


Oprah:

Vídeo retirado em razão da determinação do Ecad de cobrar para reprodução de vídeos do Youtube.



Quando fui rever na internet, acabei passeando por vários outros, e um me encantou em especial. O lugar, as pessoas, a incompreensão, o encantamento, a sensibilidade... Para minha mãe (que me apresentou o filme) e para quem gosta da Noviça Rebelde...


Noviça Rebelde:

Vídeo retirado em razão da determinação do Ecad de cobrar para reprodução de vídeos do Youtube.


Oprah Flash Mob Dance
Wikipédia: No dia 10 de setembro o grupo Black Eyed Peas quebrou o recorde de maior flash mob da história, ao reunir cerca de 21 mil fãs na Avenida Michigan, em Chicago, nos EUA para comemorar a passagem da 24ª temporada do programa de Oprah Winfrey na TV. O grupo preparou uma surpresinha para ela ao tocar o grande hit I Gotta Feeling com uma coreografia inacreditável envolvendo toda essa multidão.



sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Três cores que traduzem tradição


Primeiramente gostaria de deixar alguns pontos claros.


Sim, gostaria de ter sido campeão.
Não, não gostei de perder outra vez um título para LDU.

Isto posto, escrevo.

Definitivamente não sei torcer.
Os que me conhecem, ou que acompanham o blog, sabem que sou um desportista frustrado. Trocaria, sem pestanejar, o mundo dos livros, das traduções, das revisões, “da Letras” (como diria meu vizinho) por uma vaga de terceiro goleiro ou lateral esquerdo reserva em algum clube, de wide-receiver ou kicker em um time de futebol americano ou de armador em uma equipe de basquete. Adoro esporte, adoro competir, e, de uns anos para cá isso ficou canalizado para as peladas de fim de semana ou para o Playstation. Julgamento a parte, cada um é o atleta que merece.
Por isso, quando acompanho e torço pelo meu time em um campeonato, ou pela seleção, torço por inteiro, suo, vibro, grito, incentivo, xingo, pulo, bato palma, chuto, cabeceio, dou soco, converso, instruo, reclamo, defendo, ataco, só não dou entrevista no fim do jogo (ou melhor, não em rede nacional, mas ai de quem quiser falar comigo na saída do campo de jogo). Mas, assim como quem joga, depois daqueles vinte minutos pós-jogo (após o banho tomado e a cabeça mais fria) eu não consigo sustentar qualquer sentimento negativo. Seja a desilusão pela derrota, seja a raiva verdadeira de um ou outro jogador, seja o inconformismo por essa ou aquela situação, enfim... Já os sentimentos positivos passam a me tocar com muito mais intensidade.

Pelo que percebo, de uma forma geral pelo menos, isso não é torcer.


Brinco e sacaneio amigos torcedores de times adversários, faz parte. É mais pela sacanagem em si do que por um sentimento verdadeiro de querer ver o outro na merda (perdoem meu francês). Hoje, estou feliz por ver o flamengo (praticamente) garantir a taça do Brasileirão. Calma, vou explicar. Obviamente queria que fosse o Fluminense, não há discussão quanto a isso. Mas, não sendo o Flu, fico feliz em ver um carioca na frente. Faz tempo que os grandes títulos ficam com as equipes de São Paulo e do Sul, e o que nos resta é fazer uma festinha por uns títulos estaduais ou um ou outro título de mais projeção. A falta de estrutura e de profissionalismo dos clubes do Rio nos impede de ver mais clubes cariocas brigando pela ponta (de cima) da tabela. Creio, ou pelo menos quero crer, que será bom para a valorização do futebol do estado.

Pelo que percebo, de uma forma geral pelo menos, isso não é torcer.


Até 12 rodadas atrás, torcia para o Flu cair mesmo. Pois vi que o que estava acontecendo era um filme repetido de 96, 97 e 98. E me lembro de como conseguimos mudar a mentalidade dos dirigentes, do time e da torcida quando fomos disputar a série C. Achei que seria uma saída para o momento do clube. O que eu não esperava era que a Torcida adquirisse uma consciência torcedorística (não, não existe, mas se Machado pode eu também posso) óbvia mas quase impossível de se estabelecer – a de torcer pelo time, e não de torcer para o time quando este ganha.

Mas, pelo que percebo, de uma forma geral pelo menos, isso não é torcer... pelo menos não era até agora!

Quanto a mim, encantam-me a festa, a expectativa, o canto, a luta, o clímax, o anticlímax, a entrega, os heróis, a superação, os guerreiros, a visão de jogo, a jogada, o gol, a epopéia... o resultado pode me deixar triste ou feliz, por mais ou menos vinte minutos. Já os pontos mencionados permanecem comigo.

Quanto ao time, o que dizer... Neste caso, é como uma mãe conversando com outra, seja qual for o teor da conversa, cada uma vai crer sempre que o seu filho é o mais bonito, o mais inteligente, o mais desenvolvido, o mais cheiroso, etc. Então, como já disse e repito que não acredito em imparcialidade, ressalto apenas que nosso clube nunca se propôs a ser o maior, assim como nossa torcida. Quantidade não é sinônimo de qualidade. Mas essa torcida certamente é a melhor. Por favor, sem pedras, vou explicar cientificamente.

Qual clube do Brasil foi rebaixado duas vezes seguidas para a série B e logo em seguida para a série C, está há 26 anos sem um título Brasileiro da série A, perde uma Copa do Brasil em casa para um time de segunda, perde uma Libertadores em casa para um time do Equador e no ano seguinte perde para esse mesmo time a Copa Sul-americana novamente em casa? Vou facilitar a pesquisa, só tem um... o Fluminense.

Outra pergunta. Com o histórico acima, você diria que a torcida desse time colocou mais de 20 mil pagantes em média no Maracanã na disputa da série C; ou que a torcida desse time se renova e reforça a cada obstáculo, como a despedida da Copa João Havelange em 2000 com um chute quase do meio campo; ou que essa torcida conseguiria se recompor após se entregar a pseudocraques, jogadores em fim de carreira e ídolos rivais (como Felipe, Edmundo e Romário) que não souberam honrar as três cores que traduzem tradição; ou que essa torcida se reinventaria após o pó-de-arroz e abênção João de Deus, inovando com mosaicos, balões, fogos e, por fim, um corredor humano de 3 km para receber o ônibus do time até o estádio em que este mesmo time já começaria o jogo perdendo de 5 a 1? Vou facilitar novamente, SIM!

Portanto, concluindo cientificamente, em condições normais e temperatura e pressão (como diriam os pesquisadores), nenhum outro time tem esse histórico. Não tendo esse histórico adverso, não pode afirmar que sua torcida suportaria tais adversidades. Pode ser que sim, pode ser que não, mas como não passou não tem como provar. Eu tenho! Presenciei tudo isso e afirmo, continuamos cada vez mais tricolores.

Como disse Nelson Rodrigues:

“Uma torcida não vale a pena pela sua expressão numérica. Ela vive e influi no destino das batalhas pela força do sentimento. E a torcida tricolor leva um imperecível estandarte da paixão.”

domingo, 15 de novembro de 2009

Expectativa e realidade

Em breve terei minhas merecidas férias. Por conta disso, estou vivenciando uma enorme ansiedade – a expectativa do ócio.

Essa expectativa, de certa maneira, está me fazendo aproveitar o período das férias antes mesmo de ele chegar. Ou seja, estou potencializando meus dias livres quando, no meu aguardar, eu me pego planejando e visualizando minhas horas livres. É possível até experienciar algumas das sensações que terei quando e se eu fizer uma determinada coisa quando eu estiver de férias. O que é meio maluco, porque, de fato, ainda estou envolvido na loucura diária dessa rotina que nos aprisiona.

Fiquei pensando, então, que, embora eu tenha 1.538 planos para as férias, eu na realidade realizarei, com alguma sorte, uns 3. Não me entenda errado, eu ficarei feliz da vida com esses 3. Mas é que eu de alguma forma vivenciei em parte todos os outros 1.535 dentro da minha cabeça antes e durante meu período de descanso. O que me trouxe algum prazer momentâneo.

Não sei se estou fazendo algum sentido, mas o que estou querendo colocar é que é possível aproveitarmos algumas experiências antes mesmo de elas acontecerem. Em alguns casos talvez seja possível experimentá-las sem que elas sequer aconteçam.

A pergunta, então, é a seguinte: Que prazer é capaz de nos entreter, marcar e preencher, o da expectativa ou o da realidade?

Não quero, de forma alguma, tirar a importância da experiência vivida. Mas queria chamar a atenção para o que precede esse momento de fato vivido. Pegue os filmes, por exemplo, no “trailer” você não precisa ver o que não lhe agrada daquele “filme”, você fica com as melhores partes compiladas de forma que despertem curiosidade e prazer. Quantas vezes você já assistiu a uma porcaria de filme porque se encantou pelo trailer?

E em nossas vidas mesmo, pare um instante para pensar em alguma experiência muito bacana e marcante que você teve. Identificou? Pois então, é grande a chance (se você puxar pela memória) de que a expectativa dessa experiência tenha alimentado seu espírito bem antes da própria experiência, e talvez por mais tempo e com maior intensidade.

Por exemplo, uma festa de aniversário que você tenha feito e que tenha sido ótima. A festa em si pode ter sido ótima, a presença dos amigos, a interação, comida, bebida, as brincadeiras, as boas risadas, enfim, um belo momento que você vai se lembrar durante muito tempo e depois se recordará quando vir as fotos (caso as tenha tirado) – mas que durou, digamos 5 horas mais ou menos. Agora pense no tempo que você levou montando esse momento na sua cabeça e planejando tudo. O tempo que você conversou com essas pessoas para convidá-las, os e-mails trocados, as compras, o pensar nos detalhes, a tentativa de equacionar tudo para que o resultado fosse o melhor, todos os momentos que você gastou pensando ou fazendo algo de fato em prol da realização da festa – certamente foram mais que 5 horas e na sua cabeça certamente diversas coisas interessantes se passaram, mas que não necessariamente aconteceram durante a festa propriamente dita. Ou seja, você curtiu muito essa festa antes mesmo de ela acontecer, mas acabamos por nos esquecer disso, e o que fica é a festa “real”.

Existem inúmeros exemplos como este: a espera do Papai Noel e da noite de Natal ou a entrega do presente; aquela viagem no feriado ou todo o planejamento e a ansiedade que você ficou na semana ou nos dias que a precederam; um show que você queria muito ir ou o nervosismo dos dias anteriores, quando você conseguiu comprar o ingresso e ficou se imaginando perto do palco, recebendo aquela palheta com a qual seu ídolo tocou naquele dia; enfim...

Em um mundo em que há muito pouco com o que se divertir sem ter que pagar nada, acho que a expectativa pode ser a saída para uma melhor qualidade de vida, qualidade de relacionamento, qualidade no local de trabalho, etc. Sugiro, então que você a exercite. Experimente trabalhar essa expectativa em uma área que não esteja “tão boa assim” na sua vida. E perceba se essa energia (que será exclusivamente positiva) trará alguma melhora para essa área.

O que eu posso afirmar é que eu já comecei o exercício e, antes mesmo de entrar de férias, tenho ido à praia todos os dias, tenho dormido até mais tarde, tenho visto filmes até de madrugada e tenho feito o que posso para fazer toda e qualquer coisa na hora mais improvável possível, apenas porque na minha expectativa... eu posso.

 

 

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Sentidos

Outro dia vi em um programa na televisão, não me lembro qual (se alguém disser Saia Justa eu nego), alguém falando do olfato. A Mônica, digo, pessoa dizia algo sobre o olfato ser a “verdadeira memória”.

Fiquei pensando naquilo, nos momentos em que diferentes aromas nos levam a diferentes lugares, nos transportam para momentos específicos ou nos trazem a presença de pessoas que há muito não vemos. Achei pertinente.

Então, logo em seguida fiquei tentando lembrar do cheiro mais antigo que tenho recordação. Confesso que chegar nele foi difícil, mas assim que me lembrei dele tive certeza de que era a minha memória olfativa mais antiga. Papai e mamãe que me perdoem, mas o cheiro da Vó Neide levou essa.

Ao tentar me recordar dos cheiros, invariavelmente me vinham à mente sons, gostos, imagens, toques e diversas outras memórias. Então percebi que estava sendo injusto com os outros sentidos. Eu havia adotado o olfato como principal e negligenciado os outros que, particularmente, considero igualmente importantes.

Como já era tarde, minha esposa estava viajando e o sono havia saído e me deixado na mão, continuei com o exercício. E acho que consegui identificar em cada sentido, a mais antiga lembrança.

As minhas lembranças eu partilho abaixo. E você, já parou para tentar identificar essas lembranças? Posso dizer, por experiência própria, que a viagem vale à pena.

Se também quiserem compartilhar, sintam-se à vontade.



Olfato: cheiro da minha avó.

Paladar: torta de banana da minha mãe (nem é tão antiga assim... a lembrança).

Tato: colo da minha avó (a mesma do cheiro) e a mão da minha mãe (me dou ao direito de escolher duas nesse caso porque confesso que não consegui identificar a memória mais antiga).

Audição: o assovio do meu pai, que tinha um alcance absurdo e era o sinal para voltar para casa porque estava na hora de tomar banho.

Visão: um camping com muita gente e eu a caminhar bem... digamos... “naturista”.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Resposta a um novo velho conhecido

Dourados, 19 de outubro de 1992




Putz Rodrigo, achei que você nunca mais ia mandar notícias! Mas que bom!


Estava mesmo pensando em você nas últimas semanas. Fiquei curioso pra saber como é que você estava, se estava tudo bem.


Pelo visto sim, né!


Apesar de algumas notícias, fiquei feliz de você ter escrito.


Acho que entendi o que você escreveu sobre o pessoal aqui. Mas tá foda! Pô, e você ainda me manda ter paciência e compreensão e tal, tá de sacanagem né? Se bem que, se você está aí e falando isso, deve saber mais que eu. Vou tentar e depois você me diz se deu certo.


Você tá falando sério sobre mais duas irmãs? Vão ser 3 irmãs então? Mas vem cá, de onde vão sair essas duas? E que história é essa de “papai cinza”, não entendi porra nenhuma. Isso tá muito esquisito.


Cara, realmente escolher uma profissão está difícil. Eu adoro praticar esportes, mas não sei se vou ganhar dinheiro com educação física. E tentar alguma peneira em algum lugar também não vai dar, porque eu teria de parar de estudar e meus pais me matam. Pra ir pro treino já tá difícil, imagina se eu disser que quero ir tentar uma peneira. Confesso que desanimei quando você falou das aspirações desportistas. Mas vou tentar aproveitar os próximos anos como você falou, de repente mudo essa história.


Pô, quero ver se penso em alguma profissão que use o inglês. Você até que me animou com o lance do intercâmbio, estava pensando mesmo nisso. Acho que seria uma ótima oportunidade de aprender, conhecer uma cultura diferente, sair um pouco de casa. Só fico com o pé atrás porque sei que é uma grana e não sei se o pai teria como pagar. Na verdade nem sei se eles me deixariam ir. Mas vou pesquisar um pouco mais pra ver direitinho como e quanto é. Vai que dá.


Você não me disse o que cursou, só me falou que a faculdade não é isso tudo e depois falou “livro de medicina”. Não entendi. Aliás, não só não entendi, mas também fiquei preocupado. E por que você está rindo disso? Pô fala aí. Ih cacete, por acaso eu fiz Farmácia igual o pai? Porra, eu só me ferro em química, biologia. Aí, sacanagem você dar a notícia pela metade.


Agora, você tá falando sério que eu casei com a Tati? Hahaha, isso eu duvido. A gente se conheceu esse ano, já ficamos juntos, mas casar? Tô começando a duvidar das suas outras notícias também. Não que eu não adore ela e não pense nisso, ela é linda, inteligente, um “pouquinho” brava, mas é muita areia pro meu caminhão. Além do mais, você passou por aqui e sabe que ela é meio difícil. Qualquer coisa é motivo pra eu ganhar um pé na bunda. “Hoje tá sol, Rodrigo quero terminar.” “Hoje tá chovendo, Rodrigo quero terminar.” “Ai, o tempo tá esquisito, não sei se chove ou se faz sol... ah, Rodrigo, quero terminar.” Além disso, só temos 15 anos, sei lá o que vai acontecer no futuro. Só fiquei com a pulga atrás da orelha porque você deu muitos detalhes. Será?


Agora, essas notícias de jornal que você deu, do Collor, do Lula, do Flu, da seleção, da Legião, tá falando sério mesmo, ou é pra eu adivinhar o que é verdade e o que é mentira. Deve ser isso, vamos lá:


- Collor fora da presidência: Verdade. Isso eu tenho quase certeza, amanhã nós vamos sair daqui da escola com a cara pintada e vamos lá pra Marcelino protestar. Vi no jornal que o Brasil todo quer que o cara saia.


- Lula presidente: Mentira. Taí, não sei. Se tivesse que apostar diria que não, acho que quem manda mesmo não quer esse cara lá no topo.


- Flu na terceira divisão: Mentira. Hahaha, boa. Até parece que o clube dos 13 ia deixar.


- Campeões da Copa 94 e 02: Verdade. Disso eu nunca duvido.


- Show da Legião: Mentira. Claro que vou ver. Ainda mais se for pro Rio fazer faculdade, esses caras devem fazer show lá o tempo todo.


E aí, quantas eu acertei? Depois me conta.


Como você disse no fim da sua carta, tudo depende de escolhas. Espero poder escolher bem desde agora pra poder chegar aí com a mesma satisfação que você está me escreveu. Não se preocupe, já estou ciente da nossa “bússola”.


Preciso sair agora, vou pro Indaiá (o clube, lembra?).


Sempre que quiser, escreva.



Até mais,


Alva






 



domingo, 4 de outubro de 2009

Espírito Olímpico

A escolha do Rio de Janeiro para sediar as Olimpíadas de 2016 despertou dentro de mim uma ambiguidade de sentimentos, gerada pelo cidadão carioca e pelo desportista profissional frustrado.




Os dois haviam entrado juntos em uma loja na hora do almoço durante o anúncio do resultado. Desde de manhã, ambos discutiam sobre a necessidade de acompanhar as apresentações e a votação. Conforme a manhã foi passando o desportista tomou a iniciativa e, à revelia do cidadão, acompanhou as informações em tempo real pelos portais de notícia.


Àquela altura, minutos antes do anúncio, estavam os dois ali, diante de uma televisão que recebia a atenção de todos que estavam por perto. Nesse momento, o cidadão, que verificava os preços dos artigos que levaria para ir direto ao caixa e aproveitar o desvio de atenção de todos, foi puxado pelo desportista para perto da televisão.


Indiferente, o cidadão acompanhou a leitura do envelope que trazia as inscrições “Rio de Janeiro” e testemunhou uma emoção contida por parte do desportista, entregue apenas pelo sorriso no rosto e o leve arrepio nos pelos de seus braços. “Quanta bobagem”, ele pensou.


Já o desportista, após o anúncio, acompanhou o cidadão na finalização das compras sem proferir uma só palavra, sua cabeça estava em outro lugar. Se ele tivesse seguido a carreira profissional e tivesse experienciado algum sucesso a ponto de ter o privilégio de representar as cores do seu país na maior festa do esporte mundial, em 2016 ele estaria com 39 anos e certamente não participaria como atleta. Mas, ainda assim, ele descobriria alguma maneira de fazer parte dessa festa e contribuir de alguma forma. Ele ficou imaginando as cores nas ruas, nos carros, nas casas, nos prédios, o envolvimento das pessoas e toda a atmosfera que irá tomar conta da cidade. Ficou pensando que a chance dos nossos atletas será sempre maior, pois sabemos o que uma torcida inflamada é capaz de conseguir – um centímetro a mais, um segundo a mais, uma cesta a mais, um gol a mais, um bloqueio a mais, uma braçada mais forte, etc...


O cidadão, sem imaginar o que se passava pela cabeça do desportista naquele momento, tinha apenas uma convicção, por melhor que fosse essa olimpíada para alguns, ela seria muito melhor para quem sequer entra em uma pista, quadra, campo ou piscina. Não temos um histórico de organização e nem de sabermos aproveitar (coletiva e socialmente) os benefícios que uma situação como essa pode proporcionar. Se soubéssemos, o carnaval carioca já teria resolvido os problemas de muitas comunidades da cidade. Mas pergunte para onde vai o dinheiro de uma festa como essa que é confeccionada e realizada com o suor e dedicação de quase um ano de muitos moradores dessas comunidades. Pergunte se alguma das baianas que trabalham no carnaval há mais de vinte anos já deixou o barraco que ela morava em 1989 e comprou um apartamento de dois quartos que seja para acomodar sua família.


O legado para uma cidade que não sabe aproveitar positivamente uma oportunidade como as olimpíadas pode ser desastroso. A vontade política que se viu nos últimos meses certamente não será a mesma quando o leite da vaca olímpica secar. E esta ficará largada em um canto qualquer sem que o governo federal e nem o estadual façam qualquer esforço para lhe transferir para um pasto digno do leite que ela ora ofertou. Já vimos isso acontecer – o Autódromo Nelson Piquet, a Cidade da Música, o Parque Aquático Maria Lenk não me deixam mentir. Sem mencionar que a Lei de Gérson já começou a vigorar a partir do momento do anúncio. Será uma corrida de 7 anos para ver quem conseguirá levar mais “vantagem em tudo, certo”? Infelizmente sim.


Por essas e outras razões, o cidadão não conseguia partilhar do sentimento do desportista. E o desportista, por outro lado, não conseguia se desconectar daquela sensação.


Pelo que soube, os dois não trocaram uma só palavra desde então.

 
 
Perfeição - Legião Urbana
 
Vamos celebrar

A estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja
De assassinos
Covardes, estupradores
E ladrões...

Vamos celebrar
A estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso estado que não é nação...

Celebrar a juventude sem escolas
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião...

Vamos celebrar Eros e Tanatos
Persephone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade...

Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta
De hospitais...

Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
E todos os impostos
Queimadas, mentiras
E sequestros...

Nosso castelo
De cartas marcadas
O trabalho escravo
Nosso pequeno universo
Toda a hipocrisia
E toda a afetação
Todo roubo e toda indiferença
Vamos celebrar epidemias
É a festa da torcida campeã...

Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar o coração...

Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado
De absurdos gloriosos
Tudo que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos
O hino nacional
A lágrima é verdadeira
Vamos celebrar nossa saudade
Comemorar a nossa solidão...

Vamos festejar a inveja
A intolerância
A incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente
A vida inteira
E agora não tem mais
Direito a nada...

Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta
De bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror
De tudo isto
Com festa, velório e caixão
Tá tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou
Essa canção...

Venha!
Meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão
Venha!
O amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça
Venha!
Que o que vem é Perfeição!...

 

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Carta a um velho conhecido

Rio de Janeiro, 15 de setembro de 2009.




Alva,

Como faz tempo que a gente não se fala, resolvi te escrever para dizer como andam as coisas em 2009.

Você sabia que muita coisa iria mudar, mas aposto que você vai ficar surpreso com algumas que mudaram e outra que permaneceram como estão.

Vou começar pela nossa casa. Não se preocupe, momentos de turbulência todos passam, você vai ver com o passar dos anos que não é privilégio da nossa família. Apenas não se exponha demais, nem julgue certo e errado para não macular sua relação com eles. Eu sei que aí, nesse momento, não é fácil, mas tente estar mais próximo da nossa irmã. Acho que uma aproximação maior e uma dose extra de compreensão de ambos os lados podem resultar em um outro tipo de relação, da qual os dois poderão se beneficiar no futuro. Sei o que vai dizer, mas você é mais velho e tem de olhar a situação com olhos mais maduros.

Uma das surpresas que tenho para te contar está dentro desse assunto. O que você diria se eu te contasse que você vai ter mais duas irmãs daí a dez anos? Surpreso? Pois é, eu também! Nesse período você já estará morando no Rio e o contato será muito pequeno, em alguns períodos de férias e pelo telefone. Caso te passe alguma preocupação pela cabeça com relação aos velhos, eles têm dado conta do recado — pelo menos até agora, quero ver com as duas “aborrecentes”. Depois me lembre de te contar do “papai cinza”. Mas não vou me aprofundar, quero deixar os detalhes e as histórias para você descobrir com o passar do tempo.

Bem, em 92 eu me lembro que você não sabia o que queria fazer da vida. Sim, eu sei do que você gosta, mas profissionalmente também sei que você ainda não sabe o que quer fazer. Olha, quanto a isso, não se preocupe, a maioria das pessoas não sabe com a sua idade, e às vezes nem com trinta ou cinquenta anos. Mas é fato que você precisa se definir para poder seguir um caminho profissional. O segundo grau não será fácil, mas aprenda com as dificuldades enfrentadas nesse período, elas lhe serão úteis quando você estiver na faculdade.

Sei que não vai adiantar eu te dizer que caminho seguir, mas o que posso adiantar é que esse período será fundamental para a sua escolha, principalmente ano que vem, 93. Sabe o Marcelo, irmão da Gabi? Pois é, sabe o intercâmbio que ele vai fazer? Então, comece a pensar no assunto, veja as possibilidades, se é viável, corra atrás. Sei que a grana é pesada, mas se você realmente demonstrar interesse, posso te dizer com propriedade, será uma experiência que irá enriquecer você em todos os sentidos, imagináveis ou não. Além disso, ela será um elemento importantíssimo para te ajudar a decidir o que cursar.


Quanto à faculdade, independentemente do curso, não é um bicho de sete cabeças e nem a oitava maravilha do mundo. Assim como todas as outras coisas, ela tem seus bons e maus momentos. Você vai adorar os bons, e vai aprender a beça com os maus — divirta-se!

Não tenho boas notícias para dar sobre suas aspirações desportistas. Aproveite os próximos três anos, você terá ótimos momentos em quadras e campos, você mesmo irá se surpreender. Dedique-se, intensamente como sempre, e você colherá frutos. Só te peço para usar tênis adequados e proteger sempre o tornozelo direito. Se você fizer isso, o que eu já disse que será bom, certamente será muito melhor! Apesar disso, você não será um atleta profissional e nem representará seu país em alguma competição internacional. A faculdade, o Rio e o senso de responsabilidade adquirido irão enterrar esse sonho. Mas nada para ficar se lamentando, não é o primeiro e nem será o último sonho que não irá se concretizar. Bola pra frente, as peladas e o videogame estão aí pra isso mesmo.

Deixa eu te contar uma boa então para você se recuperar da notícia anterior. Sabe aquela menina loura dos cabelos cacheados que se sentou na sua frente hoje na sala de aula? Isso, no colégio novo. Pois é, está preparado? E se eu te dissesse que em 2009 vocês estariam casados (não no papel ainda, depois te conto, a história é longa) e morando no Rio? Hahaha, não estou de sacanagem, é sério. E digo mais, são quase sete anos de uma união estável. Mas calma, não estou dizendo que será um céu de brigadeiro até aqui, pode anotar aí que haverá todo tipo de turbulências e um bom tempo de separação (que será bom para o crescimento e amadurecimento dos dois). Mas te digo, valeu à pena! Pelo que tenho, faria o mesmo caminho de novo de joelhos se preciso fosse. Você será um sujeito feliz no seu casamento, como sempre quis. Sabe aquela história de amor que você idealiza, pois então, você viverá uma, com uns temperos de realidade para não ficar sacal. E não, vocês ainda não têm filhos, mas de repente eu te escrevo de novo ano que vem te contando novidades.

Já em relação ao trabalho, o que posso te adiantar é que o destino tem um senso de humor sem igual. Sabe quando você diz aí que não tem muito saco pra ler e que fazer qualquer graduação na área de saúde, nem que fosse para tomar conta do laboratório, está fora de cogitação? Então, sem querer te sacanear, vou lhe dizer três palavras que você irá compreender quando chegar aqui: “livro de medicina”. Pode não fazer sentido e nem ter graça para você aí em 92, mas eu estou me rachando de rir aqui.

Enfim, de resto, o Collor vai perder a presidência logo; o Lula já está no segundo mandato; o Flu já foi até para a terceira divisão (e está prestes a cair para a segunda de novo); fomos campeões das Copas de 94 e 2002; você não verá nenhum show da Legião ao vivo, mas verá uma peça sobre o Renato que fará você voltar no tempo e matar a saudade de um show que você não viu.

Acho melhor parar por aqui, sua cabeça deve estar fervilhando com as novidades.


Mas como hoje já existem diversos filmes e séries que discutem a questão temporal, o que posso te afirmar é que tudo que te contei é o resultado de escolhas, então pode ser que algumas dessas coisas não se concretizem em função de escolhas diferentes que você ou outras pessoas venham a fazer, construímos o futuro com as escolhas do presente. Então, caso você queira se certificar de que algumas dessas coisas que mencionei realmente irão se concretizar, o conselho que posso te dar no que diz respeito a você e à sua vida pessoal é “siga seu coração”. Você e eu temos muito o que aprender, mas nosso coração é uma ótima bússola, e, se cheguei até aqui, foi com a ajuda dele.

Quando puder e tiver um tempinho, mande notícias!



Um abraço,



Rodrigo

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Às fortes

Novidade? Não.
Atual? Sim.
Àquelas que nos provam na prática do dia a dia o que na teoria tentamos entender desde... faz tempo!



"Ah... se eu fosse homem...



Para ouvir meu coração e dar vazão, não à razão, mas à vontade de mudar a situação e me arriscar, me machucar, mas mandar tudo para o ar, apenas para ficar com uma mulher ou para fazer o que eu quiser. Abrir meu peito é meu direito, se eu tivesse peito...


Ah... se eu fosse homem...


Para aguentar que uma mulher é como um homem, e também pensa como um homem e quer sair com outros homens e, apesar de todas as explicações antropológicas, na prática não tem explicação para o tesão.


Ah... se eu fosse homem


Para parar de me portar feito um rochedo, indestrutível, infalível, inabalável, imutável, previsível e impossível, um computador com músculos, um chefe, um pai, um homem com H maiúsculo, eu seria o homem certo para você.


Ah... se eu fosse homem...”


Agora musicado

domingo, 23 de agosto de 2009

Ônibus



Em termos de transporte público, minha experiência com trens é muito pequena, só não é nenhuma porque em dois momentos precisei usá-los – para fugir de um alagamento e para visitar minha cunhada. Então prefiro me ater ao ônibus e ao metrô.
Em um grande centro como o Rio esse tipo de transporte além de fundamental no dia a dia, pode ser uma opção ao carro – dependendo de onde você queira ir. Diferentemente de um centro menor, onde esse tipo de transporte está associado a quem não tem carro ou não tem um puto pra pegar um táxi.
Eu, em geral, uso o ônibus para ir e voltar do trabalho, salvo algumas exceções em que volto de metrô. Para mim a experiência do ônibus é uma contradição em sua essência, do início ao fim.
A começar pelo ponto. O ponto tem um banco onde cabem, no máximo, 4 pessoas sentadas. Ele, pelo menos no Rio, em geral é coberto. O “teto” tem cerca de 1,5 m de largura e o comprimento do banco e um pouco mais. Se alguém cria um ponto de ônibus, identificado dessa forma e com essas características você espera o que? Que você possa se sentar (caso só existam 3 pessoas no ponto quando você chegar) e que você estará protegido da chuva (caso ela ocorra). Certo?... Errado.
Primeiro porque está sempre uma imundície. Segundo, porque se você imaginar que nesse 1,5 m de largura você tem que acrescentar o banco e a pessoa sentada nele (que estará com as pernas dobradas), o que vai te sobrar na verdade serão entre 15 e 30 cm, dependendo do estado de relaxamento da pessoa que estiver sentada. E mesmo que você tenha dado sorte e consiga se sentar, caso chova, você só estará protegido se a chuva cair de sem o menor ventinho, do contrário aquela cobertura só servirá pra proteger seu cabelo, porque do pescoço pra baixo ficará tudo molhado. Resumindo: existe um lugar pra sentar, que não dá pra sentar; e ele foi feito com uma cobertura pra te proteger, que não te protege.
Outra função do ponto é servir de referência tanto para o usuário, quanto para o motorista. Eu pergunto, quantas vezes você já pegou ônibus fora do ponto? Ou quantas vezes você precisou sair que nem um desembestado atrás daquele que passou pelo ponto e parou 50 m à frente? Ou quantas vezes você fez sinal, no ponto, e o ônibus passou direto? Resumindo: existe um ponto (de referência) que não serve de referência.
Quando você consegue entrar no ônibus, essas contradições continuam. Vocês já viram aquelas plaquinhas que ficam na frente, acima do motorista um pouco pra direita? Elas trazem algumas informações aos passageiros:
- Fale ao motorista o estritamente necessário
- Proibido fumar
- Proibido usar rádio (aparelho sonoro)
- Capacidade: 45 sentados/40 em pé (se não me engano)
Apesar disso, você conhece algum motorista que não converse com qualquer coisa que se mova ou estabeleça contato visual? Às vezes, para alguns deles, o simples fato de estar por perto, mesmo que imóvel e sem olhar, já é um bom motivo para iniciar uma conversa. Resumindo: fale ao motorista o estritamente necessário, “mas ele pode falar à vontade!”
Eu já entrei em ônibus em que o motorista fumava, já entrei em ônibus em que o motorista tinha um rádio ligado ao lado dele, já entrei em ônibus em que o motorista falava ao celular, já entrei em ônibus em que o motorista lia jornal. Em alguns momentos, confesso, cheguei a cogitar que aquelas placas de proibido eram apenas para os passageiros, e que o motorista poderia fazer o que bem quisesse. Resumindo: pode-se fazer o que está proibido pelas placas.
Quanto à capacidade, ninguém me convence que a capacidade informada é a real. Em relação aos passageiros sentados, pode até ser, porque é possível ver o número na placa e contar os assentos. Mas o número que eles informam de pé é praticamente impossível. Eu já fiz o teste de, em um ônibus muuuito cheio, tentar contar as pessoas em pé atrás da roleta. Sim, eu estava antes; sim, tem um aviso que diz que é proibido viajar antes da roleta; não, ninguém reclamou comigo e nem com nenhuma das outras 7 pessoas. Eu contei cerca de 33 pessoas, e tinha gente na escada e em locais em que não deveria ter. Ou seja, eles esperam que as pessoas que viajam em pé sejam magras, pequenas e não carreguem bolsas e mochilas. Só assim para se chegar perto da capacidade informada. Do contrário algumas pessoas precisarão ficar na escada ou antes da roleta para completar a lotação informada – o que é proibido e avisado no próprio ônibus. Resumindo: os ônibus, para viajar com a capacidade máxima, colocam as pessoas em locais onde eles mesmos informam que é proibido. O recado é: “Informamos que cabem X pessoas nesse ônibus, se fodam aí pra fazer caber.”
Se você tiver a curiosidade de saber como se sente um boi ou um porco que precisa ser transportado por caminhão de um local para outro, entre em um ônibus cheio, de preferência de manhã cedo, com um motorista que está atrasado em sua “corrida”. A sensação que tenho é que o cara tem a coxa do Jean-Claude Van Damme e dois pés direitos que são usados simultaneamente no acelerador e no freio. A força com que o cidadão golpeia os pedais e a rapidez da alternância entre um e outro deixaria o Bruce Lee de joelhos aguardando uma “finalização de Mortal Kombat” – e quando desço, a imagem que vem na minha tela é “Motorista Wins”. Resumindo: em teoria você teria de ser transportado com segurança; na realidade você é transportado e ponto final, se quiser segurança e conforto, vá de táxi.


E para descer é aquela incógnita: Será que ele para? Será que ele para razoavelmente perto de onde eu tenho que descer? Não é só o futebol que é uma caixinha de surpresas.
Enfim, essas são apenas algumas reflexões acerca das experiências contraditórias de se pegar um ônibus.
E então, minha vez de perguntar, qual a experiência mais curiosa você vivenciou ou a maior contradição que você vê no ônibus?



sábado, 25 de julho de 2009

Mea-culpa


Não sei se todos têm acompanhado nos últimos meses os problemas no Senado; mais especificamente o que envolve o ex-presidente José Sarney. Obviamente, não é o primeiro e nem será o último a ser acusado de falcatruas nesse ambiente político mais do que corrompido que acompanhamos. Mas hoje, ao ouvir no rádio a notícia (e o áudio) de que o filho de Sarney estava negociando um emprego para o namorado da filha no Senado, me peguei pensando em uma coisa que achei que valia a pena dividir.
Esses sujeitos que estão lá, eleitos por nós (obrigados, eu sei), têm esse comportamento desonesto por conta da impunidade que opera nessa esfera, ou eles são apenas homens como nós que conseguiram um cargo público e um ambiente propício que lhes permite fazer o que fazem?
Essa pergunta me incomoda.
Quem de nós que já não cometeu um ato desonesto, em maior ou menor escala, mais ou menos significativo, mas essencialmente desonesto. Acredito que a desonestidade seja inerente ao ser humano. Necessitamos de exercício diário e intenso para não permitirmos que nosso instinto animal nos force a tentar levar vantagem a qualquer custo. Contudo, se você parar para observar, o dia apresenta diversas oportunidades para você fazer esse exercício. Às vezes fazemos boas escolhas, às vezes não.
Então, isso me leva a pensar que essas pessoas que estão nos representando passam pelas mesmas oportunidades de exercício, no entanto, os exercícios deles têm um pe$o muito maior que o nosso.
O que me leva a achar que não adianta termos uma reforma política se a mentalidade continuar a mesma – não apenas a deles, a nossa também. Só iremos nos orgulhar daqueles que nos representam o dia em que eu não usar mais a carteira de estudante, ou quando você não estacionar em local proibido, ou quando você devolver um troco errado, ou quando você não andar pelo acostamento, ou quando você não furar uma fila, ou quando você não tiver gato de luz, nem água, nem TV a cabo, ou quando...
Quando esse dia chegar, talvez elejamos um semelhante que nos orgulhe.

domingo, 5 de julho de 2009

Equilíbrio

No dia 25/06, os jornais noticiaram com grande repercussão duas mortes, Farrah Fawcet e Michael Jackson. Compreensivelmente, a do segundo ofuscou o falecimento da pantera.
Mas o que me leva (com certo atraso, eu sei) a comentar o assunto, não é o pesar ou lamentar a morte de um ou de outro. Duas coisas me chamaram a atenção.
A primeira foi o fato de que em certos momentos somos forçados a encarar a nossa fragilidade de forma dura e seca. Se os heróis que enaltecemos, mesmo com todo seu poder, se vão, porque nós, simples mortais não iremos? Tem muita gente que ainda não engoliu a morte do Senna; e muitos ainda juram de pé junto que Elvis não morreu. São apenas dois de inúmeros exemplos de como é difícil aceitar a partida de pessoas que recebem de nós uma vestimenta de indestrutibilidade. Cientes de nossa mortalidade, presenteamos com essa vestimenta aquelas pessoas a quem julgamos ter alguma chance na busca pela imortalidade. E talvez por isso nos choque tanto quando alguma dessas pessoas se vai. Fica aquela sensação, ou frustração, de constatar que infelizmente, mesmo aqueles “escolhidos” também vão embora. Como diz meu tio: “Pra morrer basta estar vivo.”
A segunda coisa que me chamou a atenção foi a representatividade dessa nossa fragilidade nas duas perdas. Se por um lado temos uma mulher branca que perdeu uma batalha física contra um dos piores vilões do corpo humano; por outro temos um homem negro que perdeu uma batalha mental contra si mesmo.
Sem entrar nos méritos e deméritos de ambos, o que quero salientar aqui é que mais uma vez me vi diante daquele chavão que reza pela necessidade do equilíbrio. Passamos boa parte da vida adulta alimentando as necessidades físicas em detrimento das mentais. E, em determinado momento desse caminho (para uns mais cedo, para outros mais tarde), invertemos essas prioridades e passamos a não atender tanto as necessidades físicas. Isso me faz pensar que, talvez, tenhamos de nos policiar para racionalmente delimitarmos um equilíbrio na distribuição dessa atenção. Não podemos viver exclusivamente (ou quase que exclusivamente) para trabalhar, ou para a família, ou para estudar, ou para comer, ou para sair, ou para a academia, ou para qualquer outra coisa. Devemos, sim, viver para todas essas e outras coisas. Imagine uma pirâmide de cartas, se você ficar preocupado em posicionar e reposicionar repetidas vezes a mesma carta, a pirâmide eventualmente irá cair e você ficará com cara de tacho com a bendita carta na mão (e se bobear ainda vai xingar a carta!).
É fácil?
Não. Se fosse todo mundo fazia.
Será que eu consigo?
Provavelmente não. Mas não custa tentar.



quarta-feira, 24 de junho de 2009

Karaokê para surdo-mudo 2

Seguindo o clima, e aproveitando a deixa, coloco outro do gênero.
Esse cara se chama Johann Lippowitz e ele fez isso com algumas músicas, talvez a que as pessoas conheçam mais seja esta do vídeo.
Apesar da legenda, para os que não conhecem a letra, perde-se muito das associações e referências do gestos para as palavras em inglês. Mas ainda assim acho que vale a pena.
Diferentemente do anterior, este cara dificilmente deixa passar uma palavra ou idéia sem um gesto. Acho que o brilhantismo dele está nisso. Mesmo pronomes, advérbios, etc, ele consegue encaixar na mímica.
Enfim, para descontrair mais um pouco...


Vídeo retirado em razão da determinação do Ecad de cobrar para reprodução de vídeos do Youtube.

Karaokê para surdo-mudo 1

Com os cumprimentos do meu supervisor de assuntos gerais, Lord Byron, um video para não deixar esse espaço com cara apenas de sério e reflexivo.


Vídeo retirado em razão da determinação do Ecad de cobrar para reprodução de vídeos do Youtube.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Da série E-mails

Quando nos mudamos para o apartamento onde moramos hoje, no meio de 2007, eu já estava na editora e a Tatiana acabou fazendo a mudança praticamente sozinha, organizou, conferiu, gerenciou, etc.
Nessa época, logo após a mudança, notamos que o chuveiro do banheiro volta e meia “queimava”. Digo queimava porque quando ele voltava a funcionar (entenda esquentar) quando bem entendia. Percebemos que havia algo de podre no reino da Dinamarca.
Para encurtar a história, o banheiro já havia sido muito mexido por “profissionais” (jardineiro, porteiro, faxineiro, etc), ou seja, a parte elétrica e de canos estava uma “beleza”!
Descobrimos que havia um boiler furado e desativado, e solicitamos à imobiliária que trocasse por um que funcionasse. Troca autorizada e a imobiliária manda seus próprios “profissionais” para realizar o serviço. A princípio, neste dia, eles chegaram para instalar o boiler, que fica suspenso, oculto pelo gesso, sobre o boxe.
A narrativa do diálogo abaixo foi feita pela Tatiana, reproduzo-a fielmente para que vocês compreendam, mais uma vez, porque perco cinco anos de vida em decorrência das preocupações que esses e-mails dela geram na minha cabeça.
Os personagens (reais) receberam os nomes pelos quais se chamavam. O termo carinhoso “retardado” foi acrescentado em um momento de estresse profundo, perfeitamente compreensível, após semanas de enrolação.


“O tal de Neguinho apareceu aqui com outro gênio. O Gilmar ainda não deu as caras. Faz, mais ou menos, 40 minutos que os dois energúmenos estão discutindo sobre onde fazer os furos para colocar o suporte do boiler. Eles já furaram metade do banheiro e não encontraram um lugar.

Tu não vai acreditar no que eles fizeram agora... (eu não entendi direito porque estou sentada no computador e não me levantei daqui pra nada). Eles não pararam de discutir um minuto depois que começaram a furar tudo. Mais ou menos 5 minutos atrás o “retardado” que veio junto disse assim:

Ret: Pronto, vâmo colocá o negócio. (acho q era o suporte)

Ouvi um barulho e ele disse assim:

Ret: Ah não, o furo tá trocado. Você não marcô o lugá pra furá?

Neguinho responde assim:

Neg: Eu marquei, tá aí o risco.

Ret: Eu furei no risco e tá errado. Você marcô errado.

Neg: Eu não! Você que é burro e furou errado!

Ret: Eu não! Você marcô errado e eu furei no marcado.

Neg: Ai meu deus! Não acredito! Sai daí, deixa eu fazê.

Momentos de silêncio e, consequentemente, expectativa. Martelo... Furadeira...

Neg: Não tá certo, não cabe.

Ret: Eu disse!

Neg: Você que fez errado.

Ret: Eu não, eu fiz no marcado.

Silêncio...

Neg: Deixa eu pensá.

Silêncio...

Neg: Também, você pegô a broca errada! Com tanta broca que tinha, você pegô a errada!

Ret: Eu fiz com a que você falô pra fazê, ué. A de 10.

Neg: Não era essa de 10, era aquela outra de 10. E o cano agora?

Ret: Que cano?... Mas você é um cara chato!

Barulho de água caindo pelo banheiro.

Ret: Fecha a água.

Neg: Já tá fechada! Que água é essa? Essa é água fria?

Ret: Que água fria?

Neg: Acho que essa é a água fria... que segunda-fêra maldita. Queria que fosse sábado!

Ret: Anda Neguinho... fecha a água... tô ficando todo molhado!

Silêncio...

Ret: Cadê o parafuso?

Neg: Que parafuso?

Ret: Bóra Neguinho, me dá o parafuso que você trôxe.

Neguinho mexe na bolsa, pega alguma coisa...

Ret: Não é esse!

Neg: Foi esse que eu peguei.

Ret: O parafuso não é esse. Eu falei pra pegá o parafuso que tava em cima da mesa! Cadê aquele parafuso?

Neg: Ah... aquele eu não trouxe...

E até agora eles estão martelando não seio quê. Eles simplesmente não conseguem furar a parede (ou concreto). O Gilmar não vem aqui hoje. Em teoria, eles é que vão deixar tudo pronto.
Olha... por Deus, só Chapolim Colorado!”

domingo, 14 de junho de 2009

Especialidade anônima

Certamente você já se pegou pensando, em algum momento da sua vida, em como gostaria de fazer algo de forma tão destacada que fosse lembrado por aquilo — ser um músico em uma banda famosa, um ator conhecido, um médico de renome, um professor adorado, um jogador de futebol idolatrado, enfim...

E quantas vezes você já se pegou pensando, em dias não muito bons, que é apenas mais um. Acredito que por mais confiante e seguro que uma pessoa possa ser, em algum momento esse desejo quase que instintivo se faz presente.

E então, a que conclusão que você chegou? Você é especial por quê?

... breve pausa para reflexão...

Difícil não é?

... mais uma breve pausa para não dizerem depois que não dei tempo suficiente para pensar...

Então, chegou a alguma conclusão? Pois é, mas não se preocupe, eu também não. E certamente a imensa maioria que ler isto também não chegará a uma conclusão (pelo menos até aqui).

Tendo seguido esses passos, me vi na necessidade de encontrar uma resposta para mim. Não entendam mal, não quero um mundo com bilhões de Kakas, Paul Newmans, Mick Jaggers, Sílvio Santos, Lulas, etc; apenas quis entender a minha "especialidade anônima" dentro do meu cotidiano.

A primeira conclusão a que cheguei, no meu caso, é que nunca realmente mergulhei em algo que pudesse me prover tal reconhecimento. Por exemplo, fiz violão durante 2 anos quando era bem menor, hoje não me lembro de quase nada. Mas sempre quis poder tocar numa roda de amigos, ser "o cara do violão". Mas descobri que entre querer ser e ser propriamente, existe uma distância que precisa ser preenchida por aulas, dedicação, tempo, paciência e uma certa dose de dom musical.

Outro exemplo, sou um atleta frustrado, ponto. Não importa de que esporte, seja futebol, basquete, futebol americano, jogo da velha, par ou ímpar, qualquer coisa. Sempre tive uma certa facilidade para o esporte, e tive algum destaque vez ou outra. Mas o não acreditar que aquilo poderia ser uma carreira e não buscar apoio para tornar isso viável, somado ao fato de não estar perto de um grande centro talvez tenham culminado na perda de um armador dedicado para o basquete brasileiro ou de um bom lateral esquerdo para o Fluminense. Paciência...

Eu poderia seguir com outros exemplos, mas acho que a título de ilustração, estes já foram suficientes.

A segunda conclusão a que cheguei, e esta sim é a que importa, é que todos temos essa "especialidade" e ponto final. Quando comecei a pensar nisso fiquei muito preso à "especialidades conhecidas" e esqueci das "anônimas". Sim, porque a vida não é bobó de camarão de domingo a domingo durante os 30 dias do mês. Mais fundamental que isso é o arroz e feijão do dia a dia. O que quero dizer aqui é que não adianta em nada ser ou ter essa "especialidade" reconhecida se você não possui pelo menos uma "anônima". Sem esta, o produto é só embalagem.

Só me resta, então, tentar definir "especialidade anônima". Como verbete, poderia ser:

Especialidade anônima: qualidade não reconhecida ou reconhecida parcialmente, consciente ou inconsciente, manifestada em uma fração de segundo ou anos, que torna o indivíduo, dentro daquele momento, o mais especial, reconhecido e recompensado dos seres humanos.

Exemplos de situações nas quais você pode identificar a confirmação dessa "especialidade":
- um olhar do(a) companheiro(a) logo após uma surpresa boa;
- o beijo de um filho, ou de um pai ou mãe;
- um obrigado sincero de um desconhecido que não esperava uma ajuda;
- o abraço de um amigo que você não vê faz muito tempo;
ou milhões de outras coisas que você, uma vez ciente desta sensação, saberá identificar.

Isto posto, cabe a você descobrir ou reconhecer as suas, todos os dias.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Eu sei...

Adoro surpresas e não acho que temos de esperar o dia oficializado socialmente para nos manifestarmos sobre alguém ou alguma coisa. Mas é claro que essa convenção de se estipular dia disso e dia daquilo tem seu ponto positivo (não apenas para o comércio), pois todos se policiam (uns mais outros menos) para se manifestar de foma mais contida ou eufórica. Mas não importa, com dia ou sem dia o importante é se manifestar.

Então, aproveitando o embalo do primeiro dia dos namorados deste espaço, usarei a escrita e a voz de pessoas diferentes, que com sua maestria conseguiram verbalizar exatamente o que você queria dizer mas não sabia como. O primeiro em relação ao sentimento, o segundo em relação à pessoa amada.

Isso é o que sinto:

Amor é fogo que arde sem se ver

"Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;


É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;


É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.


Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?"


Luís de Camões


E isso mostra como:


Vídeo retirado em razão da determinação do Ecad de cobrar para reprodução de vídeos do Youtube.


FELIZ DIA DOS NAMORADOS!!!

sábado, 30 de maio de 2009

Bob

Minha mãe conta que eu tinha febre na época em que meu pai foi para Dourados e ficou por lá meses resolvendo as coisas e preparando tudo para nos mudarmos — acho que isso foi em 1980.

Quando eu era pequeno, eu adorava jogar futebol de botão e tinha uma mesa enorme. Teve uma época em que eu esperava ele chegar do trabalho e ficava cercando para observar algum sinal de que a gente ia jogar aquela noite (sabe aquele tipo de cachorro chato que fica do lado da mesa na hora do lanche olhando pra você, esperando que alguma coisa caia da sua mão ou que você se compadeça e jogue algo pra ele? pois é). Adorava jogar com ele mais do que com meus amigos, porque via ele jogando e aprendia a segurar melhor a palheta, a posicionar melhor os botões, a escolher melhor meus craques, enfim. E quando ele me deixava ganhar... era o máximo. Digo que ele me deixava ganhar porque descobri isso em 2000, quando comecei a jogar videogame com o Iago e me peguei fazendo a mesma coisa.

Antes das várias reformas da casa do BNH, na parte da frente havia uma varanda com cimento onde, em outra época, minha diversão era atuar como goleiro na frente de um dos muros enquanto ele fazia o papel do atacante. A gente invertia o papel às vezes. Acho que desenvolvi meu gosto pela posição de goleiro por conta disso e por assisti-lo jogando as peladas de futsal às quartas-feiras (no CEPER, no Colégio das Irmãs, no velho CAD, etc). Hoje não jogo mais no gol por questões profissionais. Minha empresária me alertou que se eu continuasse quebrando meus dedos no futebol ficaria com sérios problemas para trabalhar — foram 5 fraturas em 4 anos. Minha única tristeza em relação à nossa vida futebolística e não poder ter jogado com ele algumas peladas “à vera”. Meu pai ferrou o joelho em uma pelada quando eu tinha 14 ou 15 anos e depois disso não conseguiu mais jogar por conta do estrago.

Meu pai me carregava (às vezes quase que arrastado, confesso) para fazer as coisas com ele. Se tivesse que ir à feira, à quitanda, à banca de jornal, enfim... lá vinha ele: “Vâmu lá com o pai.” O barato de ir à feira é que a gente sempre comia rabanete e sobá — o sobá ele pagava.

Aprendi a dirigir com ele. Aos 13 anos ele me deixou levar a Marajó de casa ao laboratório de noite. Ele perguntou se eu sabia dirigir e eu disse que sim (na teoria, é claro, sempre que estava sozinho no carro eu brincava que estava dirigindo com o carro desligado, fazia todos os movimentos, trocava marcha, etc). Obviamente, quando peguei o carro fiz ele morrer duas vezes antes de conseguir fazê-lo andar. Um pouco mais velho eu passei gostar ainda mais de uma rotina que já tínhamos às segundas-feiras de noite. Ele ia à banca do Jaime no centro comprar o jornal, gibi e revistas. Nessa época eu passei a me interessar menos pela leitura e mais pela possibilidade que havia de ele me deixar dirigir de volta pra casa vez ou outra.

Já mais velho e desenvolto no volante, eu passei a ter aulas de controle de pedal e de manobra. A entrada da nossa garagem era uma subida bem íngreme e curta (que fazia inclusive o carro patinar na maioria das vezes. Ele ensinou a fazer o carro parar naquela subida sem botar o pé no freio, e depois a sair dessa posição sem deixar o carro andar pra trás. A outra aula envolvia a Scania de nosso vizinho. Ele ficava em pé a uma certa distância do caminhão e me fazia estacionar entre ele e o monstro. Confesso que a pressão era grande, ou matava meu pai atropelado ou batia num Transformers inanimado. Devo minha facilidade com os pedais e minha desenvoltura na busca por vagas a essas aulas.

Minha casa sempre teve muita música, principalmente fim de semana. O rádio, as fitas ou os discos estavam sempre tocando alguma coisa enquanto ele e minha mãe estavam fazendo outra (fazendo comida, ajeitando a casa, consertando alguma coisa, lavando o carro, dando banho no cachorro, etc). Algumas de minhas paixões musicais certamente têm origem nessas coisas que eu ouvia e que me encantaram de alguma forma — Eric Clapton, James Taylor e Elton John estão aí e não me deixam mentir.

Na época que eu inventei que queria fazer o intercâmbio, a confiança dele foi muito importante. Sempre me considerei cauteloso (as pessoas ao redor insistem em usar a palavra “cagão”, não entendo), talvez por isso, talvez eu não tivesse pensado em encarar um desafio como esse se eu não tivesse o incentivo e encorajamento por parte dele.

Minha relação com ele mudou muito depois que saí de casa e vim pro Rio. A distância nos dá uma perspectiva que não temos quando estamos dentro de um contexto qualquer. O crescimento e o amadurecimento com os anos de faculdade, de trabalho e de casamento me fizeram cultivar um respeito e uma admiração crescentes por ele. Lamento por não poder estar mais tão perto hoje para desfrutar da companhia dele e mostrar sua importância na formação do homem que me tornei e o que aprendi sobre honestidade, dedicação e caráter.

Nossa história obviamente não foi feita somente de bons momentos e nem ele é o cara mais perfeito do mundo, mas na minha balança o saldo dele é bastante positivo.

Hoje, dia 30, é aniversário dele.

Parabéns meu velho!
Amo você.

Bibo


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quarta-feira, 27 de maio de 2009

Aos amigos

Aproveitando o repentino ânimo e a crescente desinibição dos transeuntes deste espaço, aproveito para me declarar.
(Pausa para um breve momento de tensão da esposa... breve o suficiente para gerar uma expectativa, mas não tão longo que me faça chegar sem os dentes ao trabalho amanhã.)
A declaração vai para os amigos. Vou falar por mim, mas quem quiser que faça uso do espaço, das palavras, da idéia ou da intenção à vontade.
Sabe aquele dia em que você tem que ligar para uma pessoa, lembra disso ao acordar, faz mil coisas o dia inteiro (diversas delas o lembram que você tem que ligar), chega a noite e você pensa em ligar depois do banho e pronto — você acorda no dia seguinte e lembra que não ligou. Já passou por esta situação?
Pois é, penso que às vezes tratamos muitos de nossos relacionamentos como um "grande dia" — que passa e a gente perde uma grande oportunidade de dar importância a quem nos é importante. Em geral, temos esse tipo de revelação em determinado momento da vida em relação aos avós, pais, irmãos ou entes queridos de quem temos grande proximidade.
Então, estive pensando que determinadas pessoas, que não nossos parentes, têm ou tiveram grande importância em nossa vida — durante um período ou grande parte de nossa vida. E, em geral, falamos e fazemos coisas para essas pessoas que clara ou implicitamente demonstram esse sentimento. Mas raras são as vezes em que dizemos a eles que eles são importantes.
Portanto, antes que “meu dia” acabe, vou usar este momento para registrar essa importância.
Tive amigos que vivenciaram trechos da minha vida, uns mais outros menos, e agradeço a todos por tudo. Mas estes certamente estão nas melhores lembranças.
O Tizzatto, o Marcelo e o Beto foram três caras que cresceram comigo, passamos infância e adolescência rindo, brigando e aprendendo juntos. Hoje praticamente não temos contato, acho que os três ainda moram em Dourados. Pelo que sei estão bem.
O Byron eu conheci um pouco mais velho, pouco antes da adolescência. O engraçado é que no início a gente brigava na rua e não se entendia. Com o tempo, esse cara se tornou um irmão que trago no coração — o irmão preto (ou afro-descendente, par não ser processado). O papo, o tereré e os sacode no PS2 são certos toda vez que vou pra Dourados. O legal dessa amizade é que a gente sempre teve muitas diferenças e aprendemos muito crescendo juntos. Havia uma compreensão e parceria quando tudo estava bem e, principalmente, quando não estava. Aprendi com ele o que é amizade.
Meu compadre Herlon (ou João, para os íntimos) apareceu na minha vida já na faculdade, foi meu calouro. A PUC e o grupo que andávamos acabou fazendo essa amizade surgir. No fim da faculdade fomos dividir um apartamento em Copacabana. A amizade já existia, mas criou raízes e ganhou espaço. Aprendi muita coisa com ele e, em troca, a pedido do Bigode e da mãe, não deixava ele fazer muita merda. O custo disso pra ele é que sempre o apresento como minha primeira esposa.
Hoje tenho o magnânimo Nuno, meu melhor amigo de toda Vila Isabel e adjacências (se não menciono vai ser uma ladainha); César (parceiro de vitórias e emoções no Maraca); Eduardo (Arashiro San embora pague pra não falar, quando o faz tem um humor que garantiria seu lugar numa roda de abobrinhas comigo e com o Byron); Anderson (apesar do distanciamento, sua dedicação diante da vida e da família é fonte de inspiração); Fernando (o Velhinho ocupa um papel de amigo, tio, pai emprestado, fiador e que hoje tem lugar cativo no meu coração); enfim...
Para estes, os que não foram mencionados, os que não foram lembrados, os novos amigos e os que estão porvir, deixo meu agradecimento e minha homenagem.


(James Taylor - You've got a friend - ao vivo no Rock n' Rio I)

Vídeo retirado em razão da determinação do Ecad de cobrar para reprodução de vídeos do Youtube.


Obs. quem achar no video Wally dando um tapa na pantera ganha uma mariola vencida.