terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Herrar é umânu

Nasci.

Até aprender a me expressar, fiz barulhos.

Até aprender a andar, caí sem parar.

Até aprender a usar o vaso, fiz na fralda.

Até aprender a falar direito, machuquei a gramática.

Até aprender a andar de bicicleta, ralei muito o joelho.

Por que é que quanto mais a gente cresce e mais simples ficam os aprendizados, menos toleramos nossos erros?

Disse “a gente” para me sentir mais à vontade, incluam-se fora dessa os que assim desejarem.

Quantos acertos você tem ao longo do dia? Pare para pensar, consegue se lembrar de algum? Provavelmente você se lembrou de algum ou nenhum, certo?

E quantos erros você cometeu ao longo deste mesmo dia? Alguns, não é? E você até consegue enumerá-los, estou certo de novo? Não se preocupe, não vou pedir para dizer quais. Mas mesmo quando não reconhecemos algum erro para os outros, não quer dizer que não saibamos que erramos. Introspecte-se (Machado que me perdoe!).

Se não é esse o seu caso, se o que eu disse lhe parece absurdo, aconselho seguir daqui para o do Bruno Mazzeo (http://bloglog.globo.com/brunomazzeo/).

Agora, se você acompanhou meu raciocínio até aqui, e vê algum sentido no que digo, eu pergunto: Por que é que esquecemos/ignoramos as dezenas de acertos que temos do momento em que acordamos até a hora de dormir?

Já parou para pensar na grandiosidade dos feitos de aprender a andar, a falar e a controlar suas funções orgânicas? Pois bem, se você acordou, deu bom dia para alguém e não mijou na cama... Parabéns! Em mais ou menos 10 segundos você já contabilizou 3 acertos para o seu dia. Aplique esse raciocínio e você verá que, por mais ridículo que pareça, ele mostra que tendemos a deixar de lado os acertos e nos concentrar nos erros.

Existe uma diferença entre querer acertar e não querer errar. No primeiro caso, o erro faz parte do processo; no segundo ele mina o aprendizado.

Aprender é arte. Aprender a errar é técnica.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Abrolhos

O barco que nos levou a Abrolhos chamava-se Imagine.





Imagine uma viagem que parece que tatua imagens na sua retina... pois é, Abrolhos é assim.







Imagine um lugar praticamente inabitado, preservado, sem a nossa interferência... pois é Abrolhos é assim.





Imagine um lugar onde você fecha os olhos e mira sua câmera para qualquer lugar em 360 graus e a foto fica linda... pois é, Abrolhos é assim.






Imagine um lugar em que você tira a sua melhor foto, a mais bela, e ainda assim ela não reflete o que seus olhos vêem... pois é, Abrolhos e assim.






Se você tiver a oportunidade em algum momento, não deixe de ir. Se puder criar essa oportunidade, o faça. A viagem é cansativa, são duas horas e meia de ida em um barco pequeno sem conforto e o mesmo tempo de volta. Mas as horas que você passa lá, na energia do lugar, fazendo parte daquela beleza, nadando naquela água, desfrutando do visual em cima e embaixo d'água fazem você esquecer de tudo e não ter mais vontade de sair de lá.





Hoje, eu conheço mais matizes do azul do que os esquimós do branco. 

A viagem

Precisava de um motivo especial para estrear o blog em 2010. Encontrei!

Prestes a adentrarmos a zona conhecida por abrigar a crise dos 7 anos, minha capanhera e eu conversamos, analisamos os feriados e vimos que nossa única possibilidade no ano seria viajarmos no carnaval. Eu tinha um dia de folga na editora e poderia alocá-lo na quinta-feira (pós-quarta de cinzas).

Uma vez identificado o momento, partimos para a decisão seguinte... pra onde?

Abrimos o mapa, o site da Gol e começamos a conversar. Exclui daqui, elimina dali, calcula tempo, calcula dinheiro... decidimos, vamos conhecer os lençóis maranhenses. Pesquisamos pousadas, custo, pacote, etc. Dois dias depois, saia nota em O Globo “Lençóis Maranhenses estão secos”. Resumindo, o que era um mundaréu de água tinha virado uma poça.

Mudança repentina de planos, preocupação, dúvida, e agora?

Eis que a louca do mapa me liga na editora: “Vamos pra Caravelas!”

Eu, então, como macho Alva da relação, decidi: “É, vamos mesmo.”

Ela pesquisou pousada, pacote, passeio e organizou tudo. Estávamos preparados para seguir para a Bahia, com o Táta 2 (veículo 1.0 também conhecido pelos menos íntimos como tartaruga), para ficar em Caravelas e passear por Abrolhos. Uma verdadeira aventura.

A IDA
Sexta-feira de carnaval, 14h, conforme combinado, ela me apanha na editora para ganharmos tempo e tentarmos evitar o trânsito da saída ponte e do primeiro trecho da estrada (pra quem não conhece é por onde passa 80% do Rio de Janeiro que viaja no carnaval)

Primeiro diálogo da viagem:

- Viu meu e-mail?
- Não.
- Como não? (olha o cheiro da crise dos 7 anos...)
- Não vi, tive que almoçar com uma autora e não liguei o computador na volta.
- Não consegui fazer a transferência para pagar a pousada, pedi pra você fazer no Real.
- O caixa eletrônico não faz. Vamos pagar com o cartão quando chegarmos lá.
- Tá. Você está com o MasterCard, né?
- Não, está em casa. (olha o cheiro ficando mais intenso...)
- Mas eu falei que eles só aceitam MasterCard!
- Eu sei, mas não peguei quando saí!
- E agora?
- Não sei, liga pra pousada e pergunta o que dá pra fazer.
- Não trouxe o telefone de lá.
- E o endereço?
- Quer que eu lembre de tudo?! (pronto, a catinga havia tomado conta do ambiente)

Tivemos de voltar em casa. Pegamos cartão, endereço, telefone e aí sim seguimos viagem. Iniciamos 15:20 da tarde, passando pela frente do Maracanã. Nossa meta, pelos cálculos e indicações de um amigo de Vitória que conhece a estrada, era chegar em Vitória entre 9 e meia e 10 e meia da noite. Dormiríamos e seguiríamos no dia seguinte pela manhã até Caravelas.

Ponte tranquila, primeiro trecho tranquilo, o sol brilhava, a música tocava no rádio, tudo era engraçado... até o primeiro quebra-mola na entrada de Campos. A BR101 que contorna e cruza parte da cidade estava literalmente parada. Foram quase 2 horas e meia até que deixássemos a cidade (um trecho feito na volta em 10 minutos). Detalhe, eram quase 10 horas da noite e estávamos na metade do caminho até Vitória (que, por sua vez, era metade do caminho até Caravelas).

Campos superada, seguimos adiante, era noite, já não estávamos tão risonhos e a música era trocada constantemente. Onze e meia, olhos cansados, bunda quadrada, estrada ruim, resolvemos encostar para procurar um hotel. Em Iconha fomos aconselhados a voltar 8 km e ficarmos em um hotelzinho na beira da estrada, pois Vitória ainda estava um pouquinho distante, cerca de uma hora e meia.

Fizemos isso, avistamos o tal do hotelzinho, com um boteco ao lado. O hotel parecia estar fechado, estava todo apagado. Resolvi descer para perguntar. Quando cheguei no balcão, e aguardava a moça reunir boa vontade para me atender, notei que o amor estava no ar. Casais apaixonados se beijavam ardentemente, enfim, o clima era de pegação. Perguntei do hotel e a moça respondeu: “Tem que tocar a campainha para pedir a chave.”

Neste momento eu estava com 3 neurônios acordados, mas um eles estava muito cansado e havia ficado no carro. Os dois que me acompanharam estavam mais atentos, um disse: “Olha, tem coca-cola gelada!” Já o outro teve uma visão macro da situação: “O imbecil, te manda que isso aqui é um puteiro!”

Embora quisesse muito a coca-cola gelada, entrei no carro e sugeri que seguíssemos até Vitória.

Aportamos pouco antes de entrar em Vitória por volta de 1 e 15 da manhã, no motel que tinha mais luzes (era o único que meu olhos conseguiam enxergar àquela altura).

Comemos e dormimos, quase que simultaneamente.

Acordamos às 9 horas e seguimos por dentro de Vitória, desbravando a terra dos Rueff Camisasca. Tomamos café e deixamos a cidade rumo ao objetivo final – Caravelas.

Pouco tempo depois, entre Serra e Fundão (sim, até no carnaval a Tatiana precisa passar pelo Fundão, isso se chama dedicação) o trânsito parou. Foram mais 2 horas de engarrafamento ao longo de um trecho ridiculamente pequeno. Nesse momento, uma prática que me incomoda bastante passou a me irritar, a ultrapassagem pelo acostamento. O que essas pessoas têm na cabeça, sério? O que passa pelo cérebro de uma criatura assim? Porque pra mim é matemático, se engarrafou é porque em um determinado trecho há mais carro do que o espaço permite deixar fluir. Logo, se você vai pelo acostamento e acrescenta mais carros ainda, o trânsito ficará ainda mais lento. Dããã. E o pior, essas pessoas devem pensar assim: “Foda-se, não sou eu que vou estar lá atrás mesmo”. Mas elas não percebem o erro que cometem. Além de colocarem em risco a vida de um terceiro e da sua própria família, elas dão um péssimo exemplo, na grande maioria das vezes, para os filhos que estão no carro. O recado é basicamente o seguinte, filho, contanto que você se dê bem, pode deixar de lado as leis e regras estipuladas pela sociedade para um convívio harmonioso e pacífico. E eu tenho certeza de que esses mesmos motoristas de acostamento ficam “indignados” ao verem nos jornais políticos escondendo dinheiro, etc, etc, etc. O que eles não pensam é que provavelmente os exemplos que essas pessoas tiveram são os mesmo que eles estão dando para os filhos.

Passamos Fundão, graças a Deus! A partir daí a viagem seguiu tranqüila, apesar dos muitos caminhões e da pista em mão dupla durante todo o caminho. Aliás, em decorrência disso, desenvolvemos um novo tipo de ultrapassagem – ultrapassagem por constrangimento. É mais ou menos assim, você fica tempo suficiente atrás de um carro, ônibus ou caminhão sem conseguir ultrapassá-lo. O resultado é que a pessoa fica tão constrangida que para no primeiro posto, encosta no acostamento ou se joga da estrada para deixar você passar.

No trecho final da viagem, para evitar uma estrada de chão de 60 km, optamos por dar uma voltinha a mais até Caravela, passando por Teixeira de Freitas e Alcobaça. Acrescentamos mais uns 80 km além do que pensamos em percorrer.

Chegamos ao destino final por volta das 17:30. O prêmio após a primeira metade da Odisseia foi um visual lindo nos fundos do hotel, um pôr do sol avermelhado, uma praia vazia e uma água quentinha!!!

A ESTADIA
As imagens falam por si. Sol, tranquilidade, boa companhia, praia, boa comida, belo visual...












A VOLTA

Optamos por sair na quarta e cinzas cedo para evitarmos o trânsito de volta para Vitória. Nossa ideia era novamente chagarmos até Vitória e seguirmos pela Rodovia do Sol, para conhecermos o litoral.

Fomos muito bem até Vitória, chegamos no início da tarde. Conhecemos um pedaço da cidade, passamos pela terceira ponte e entramos em Vila Velha. Aportamos em algumas praias para fotos e seguimos pela tal Rodovia do Sol até Guarapari. Passeamos por uma das praias, mais fotos e decidimos que aproveitaríamos o finzinho de dia para tentarmos chegar até Cachoeiro de Itapemirim, terra do Rei, e ganharmos alguns km a menos no dia seguinte.

Chegamos em Cachoeiro às 20h, após um breve erro no percurso. Comemos e dormimos. Acho que sabíamos o que nos aguardava no dia seguinte.

Saímos de Cachoeiro às 9h, às 14h estávamos no trevo de Rio Bonito, quando tudo parou. Sério, parou! Um pouco depois, cheios de fome, resolvemos, assim como outras 3.572 pessoas, comer alguma coisa no Kiosque do Alemão. Maldita hora, vim conversando com aquele maldito pão com lingüiça até a Ponte Rio-Niterói. A partir do Kiosque foram cerca de 3 horas para andar 9 km. Em determinado momento uma moça que estava no carro ao lado, saiu para fumar e foi caminhando. Passamos por ela minutos depois, sentada na divisória das pistas esperando o carro em que ela estava passar.

Manilha parada, Ponte parada, Praça da Bandeira 18:30h e, finalmente, lar doce lar!

Acho que iniciamos bem a crise dos 7 anos.

Se você me perguntar se eu faria tudo de novo, passando pelos mesmos perrengues, eu diria que para fazer o que eu fiz e ver o que eu vi... sem dúvida!

Obs. Notaram que não mencionei Abrolhos? Pois é, merece um post especial.