Sempre acreditei desde cedo que seria pai, e um bom pai. A
vida só me permitiu sê-lo um pouco mais tarde do que imaginava. Sábia a vida.
Das inúmeras ilusões que eu tinha, uma era que eu queria ter
vários filhos. Entendia erroneamente que a quantidade era diretamente
proporcional à minha habilidade na função.
Tenho 41 anos e Mariana fará 7 em duas semanas. O que essa
moça tem me ensinado desde que nasceu é muito mais que o livro do Lamare
poderia sonhar.
Nesse pouco tempo, ela me mostrou que eu achava que tinha
muita paciência; que embates existem e muitas vezes são necessários; que o
tempo passa; que precisamos valorizar e ser gratos pelo que temos; que eu não
sei um monte de coisa; que eu erro pra cacete; e que o amor incondicional é
fato.
Com a ajuda dela entendi que a relação de ensino e
aprendizagem nesta relação pai-e-filho é uma via de mão dupla, onde ambos
ensinam e ambos aprendem. Se você não está aprendendo nada, há algo errado.
Entendi, também, que esses seres potencializam o que você tem
de melhor e de pior. É como se eles colocassem um holofote nas suas
características positivas e negativas mais fortes para que você e todos ao seu
redor estejam sempre cientes delas.
E é esse ponto específico que mais me encanta, me irrita e me
faz refletir. Hoje entendo que essa pessoa – dentro de suas individualidades,
sua genética, suas escolhas e seus desafios – é uma oportunidade que a vida nos
apresenta para melhorarmos os seres que somos. Quando o filho chega, em geral
já estamos com uma idade em que já descobrimos formas de burlar ou maquiar
nossas imperfeições, medos e frustrações. Não apenas descobrimos, como já as
temos devidamente implementadas.
Então chegam esses seres para nos pôr à prova, testar nosso
discurso, questionar nossas crenças. E por meio desses embates temos a
oportunidade de revisitar nossos armários e porões e olhar tudo de perto
novamente e decidir se vamos nos dar ao trabalho de retirar de lá nossos piores
eus e tentar melhorá-los.
Não é fácil, não é indolor, não é simples. Mas quando nos
propomos a encarar, com a ajuda desses pequenos, os ganhos são generosos –
tanto para nós, quanto para eles. Experimente pegar um dos erros cotidianos que
você comete com o exemplar que tens em casa. Em vez de fazer de conta que nada
aconteceu, ou que mesmo estando errado você é que tinha razão, ou de não dar o
braço a torcer; chame a criança e diga que você errou porque achou isso ou
teimou em relação a aquilo e peça desculpas pelo seu erro. Você não tem ideia
do bem que isso faz a você e a ela.
Eu não acredito nesta relação sem conflitos. Para mim eles são
necessários para que andemos para frente. Como lidar com eles já é parte das
nossas escolhas, da responsabilidade que recai sobre os mais velhos desta
relação.
Se a relação entre você e seu filho está supertranquila, um
dos dois não está fazendo os questionamentos que deveria – e com isso as
oportunidades de crescimento estão passando. Use-os, mas use-os para o bem,
para crescer, para se tornar uma pessoa melhor, não para cristalizar ainda mais
suas ilusões ou aspirações de quem gostarias de ser.
Não
perca tempo, questione, incomode-se, vulnerabilize-se! Ou... tire fotos, poste
nas redes sociais com um comentário adoçado com aspartame e daqui há uma
década, quando for lembrado dessas fotos, pense nas inúmeras oportunidades que
escorreram pelo Wi-fi ou pelo pacote de dados.
Belíssima reflexão.
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