sábado, 25 de julho de 2009

Mea-culpa


Não sei se todos têm acompanhado nos últimos meses os problemas no Senado; mais especificamente o que envolve o ex-presidente José Sarney. Obviamente, não é o primeiro e nem será o último a ser acusado de falcatruas nesse ambiente político mais do que corrompido que acompanhamos. Mas hoje, ao ouvir no rádio a notícia (e o áudio) de que o filho de Sarney estava negociando um emprego para o namorado da filha no Senado, me peguei pensando em uma coisa que achei que valia a pena dividir.
Esses sujeitos que estão lá, eleitos por nós (obrigados, eu sei), têm esse comportamento desonesto por conta da impunidade que opera nessa esfera, ou eles são apenas homens como nós que conseguiram um cargo público e um ambiente propício que lhes permite fazer o que fazem?
Essa pergunta me incomoda.
Quem de nós que já não cometeu um ato desonesto, em maior ou menor escala, mais ou menos significativo, mas essencialmente desonesto. Acredito que a desonestidade seja inerente ao ser humano. Necessitamos de exercício diário e intenso para não permitirmos que nosso instinto animal nos force a tentar levar vantagem a qualquer custo. Contudo, se você parar para observar, o dia apresenta diversas oportunidades para você fazer esse exercício. Às vezes fazemos boas escolhas, às vezes não.
Então, isso me leva a pensar que essas pessoas que estão nos representando passam pelas mesmas oportunidades de exercício, no entanto, os exercícios deles têm um pe$o muito maior que o nosso.
O que me leva a achar que não adianta termos uma reforma política se a mentalidade continuar a mesma – não apenas a deles, a nossa também. Só iremos nos orgulhar daqueles que nos representam o dia em que eu não usar mais a carteira de estudante, ou quando você não estacionar em local proibido, ou quando você devolver um troco errado, ou quando você não andar pelo acostamento, ou quando você não furar uma fila, ou quando você não tiver gato de luz, nem água, nem TV a cabo, ou quando...
Quando esse dia chegar, talvez elejamos um semelhante que nos orgulhe.

4 comentários:

  1. Seu post me lembrou a lição que tomei de um professor da faculdade. Eu peguei um fio de sutura no hospital onde fazia estágio pra operar uma senhorinha de graça, no dia seguinte, na clínica dele.

    Quando ele soube do pequeno "desvio", mesmo que para um fim nobre, me esculhambou, dizendo que o que diferenciava minha atitude de um roubo milhonário era apenas a quantia, pois a atitude em si era a mesma. Disse também que nada justificava, e que a pessoa que hj desvia milhões pra sua conta num paraíso fiscal pode ter começado assim, fazendo algo que considerava justo ou banal, como os exemplos que vc deu acima. Nunca esqueci isso...

    Bjs bjs!
    Carla.

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  2. Perfeito o post, Rodrigo. Concordo plenamente. O que temos em Brasília é apenas reflexo da sociedade em que vivemos.

    Sarney está arrumando cargos para familiares dele no Congresso? Pois muitos fazem a mesma coisa em outros níveis. Quantas pessoas de diferentes instituições vc nao conhece tentando empregar parentes? Nas forças armadas, nas universidades públicas, só pra citar os exemplos mais tradicionais.

    Por isso que gosto de uma frase dita por Gandhi:

    "Be the change you want to see in the world"

    grande abraço
    Cesar

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  3. Pode parecer que vivo em um mundo de fantasia, mas nunca vi meus pais cometerem um ato que fosse desonesto e assim sigo também minha vida e começo assim também a das minha meninas. Por isso, me incomoda quando pessoas fazem as coisas do dia-a-dia tentando burlar qualquer lei que seja e dizem que fazem isso porque todos fazem e que as pequenas coisas não são assim tão importantes. Posso até ser "certinha" demais, mas é assim que fui criada e me sinto bem assim! Vc leu meu post sobre os centavos?
    Muito pertinente seu texto! Como eu queria que todos parassem para refletir sobre essas ditas pequenas coisas...

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  4. Vc esta certo Rodrigo... e isso me fez lembrar uma coisa: pq nos sentimos "tão honestos" e orgulhosos quando devolvemos o troco que nos foi dado erroneamente? Fazer o que é certo deve ser uma rotina, um dever e não algo "inédito" que merece o nosso orgulho e aplausos de quem vê...
    beijos

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