domingo, 15 de novembro de 2009

Expectativa e realidade

Em breve terei minhas merecidas férias. Por conta disso, estou vivenciando uma enorme ansiedade – a expectativa do ócio.

Essa expectativa, de certa maneira, está me fazendo aproveitar o período das férias antes mesmo de ele chegar. Ou seja, estou potencializando meus dias livres quando, no meu aguardar, eu me pego planejando e visualizando minhas horas livres. É possível até experienciar algumas das sensações que terei quando e se eu fizer uma determinada coisa quando eu estiver de férias. O que é meio maluco, porque, de fato, ainda estou envolvido na loucura diária dessa rotina que nos aprisiona.

Fiquei pensando, então, que, embora eu tenha 1.538 planos para as férias, eu na realidade realizarei, com alguma sorte, uns 3. Não me entenda errado, eu ficarei feliz da vida com esses 3. Mas é que eu de alguma forma vivenciei em parte todos os outros 1.535 dentro da minha cabeça antes e durante meu período de descanso. O que me trouxe algum prazer momentâneo.

Não sei se estou fazendo algum sentido, mas o que estou querendo colocar é que é possível aproveitarmos algumas experiências antes mesmo de elas acontecerem. Em alguns casos talvez seja possível experimentá-las sem que elas sequer aconteçam.

A pergunta, então, é a seguinte: Que prazer é capaz de nos entreter, marcar e preencher, o da expectativa ou o da realidade?

Não quero, de forma alguma, tirar a importância da experiência vivida. Mas queria chamar a atenção para o que precede esse momento de fato vivido. Pegue os filmes, por exemplo, no “trailer” você não precisa ver o que não lhe agrada daquele “filme”, você fica com as melhores partes compiladas de forma que despertem curiosidade e prazer. Quantas vezes você já assistiu a uma porcaria de filme porque se encantou pelo trailer?

E em nossas vidas mesmo, pare um instante para pensar em alguma experiência muito bacana e marcante que você teve. Identificou? Pois então, é grande a chance (se você puxar pela memória) de que a expectativa dessa experiência tenha alimentado seu espírito bem antes da própria experiência, e talvez por mais tempo e com maior intensidade.

Por exemplo, uma festa de aniversário que você tenha feito e que tenha sido ótima. A festa em si pode ter sido ótima, a presença dos amigos, a interação, comida, bebida, as brincadeiras, as boas risadas, enfim, um belo momento que você vai se lembrar durante muito tempo e depois se recordará quando vir as fotos (caso as tenha tirado) – mas que durou, digamos 5 horas mais ou menos. Agora pense no tempo que você levou montando esse momento na sua cabeça e planejando tudo. O tempo que você conversou com essas pessoas para convidá-las, os e-mails trocados, as compras, o pensar nos detalhes, a tentativa de equacionar tudo para que o resultado fosse o melhor, todos os momentos que você gastou pensando ou fazendo algo de fato em prol da realização da festa – certamente foram mais que 5 horas e na sua cabeça certamente diversas coisas interessantes se passaram, mas que não necessariamente aconteceram durante a festa propriamente dita. Ou seja, você curtiu muito essa festa antes mesmo de ela acontecer, mas acabamos por nos esquecer disso, e o que fica é a festa “real”.

Existem inúmeros exemplos como este: a espera do Papai Noel e da noite de Natal ou a entrega do presente; aquela viagem no feriado ou todo o planejamento e a ansiedade que você ficou na semana ou nos dias que a precederam; um show que você queria muito ir ou o nervosismo dos dias anteriores, quando você conseguiu comprar o ingresso e ficou se imaginando perto do palco, recebendo aquela palheta com a qual seu ídolo tocou naquele dia; enfim...

Em um mundo em que há muito pouco com o que se divertir sem ter que pagar nada, acho que a expectativa pode ser a saída para uma melhor qualidade de vida, qualidade de relacionamento, qualidade no local de trabalho, etc. Sugiro, então que você a exercite. Experimente trabalhar essa expectativa em uma área que não esteja “tão boa assim” na sua vida. E perceba se essa energia (que será exclusivamente positiva) trará alguma melhora para essa área.

O que eu posso afirmar é que eu já comecei o exercício e, antes mesmo de entrar de férias, tenho ido à praia todos os dias, tenho dormido até mais tarde, tenho visto filmes até de madrugada e tenho feito o que posso para fazer toda e qualquer coisa na hora mais improvável possível, apenas porque na minha expectativa... eu posso.

 

 

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Sentidos

Outro dia vi em um programa na televisão, não me lembro qual (se alguém disser Saia Justa eu nego), alguém falando do olfato. A Mônica, digo, pessoa dizia algo sobre o olfato ser a “verdadeira memória”.

Fiquei pensando naquilo, nos momentos em que diferentes aromas nos levam a diferentes lugares, nos transportam para momentos específicos ou nos trazem a presença de pessoas que há muito não vemos. Achei pertinente.

Então, logo em seguida fiquei tentando lembrar do cheiro mais antigo que tenho recordação. Confesso que chegar nele foi difícil, mas assim que me lembrei dele tive certeza de que era a minha memória olfativa mais antiga. Papai e mamãe que me perdoem, mas o cheiro da Vó Neide levou essa.

Ao tentar me recordar dos cheiros, invariavelmente me vinham à mente sons, gostos, imagens, toques e diversas outras memórias. Então percebi que estava sendo injusto com os outros sentidos. Eu havia adotado o olfato como principal e negligenciado os outros que, particularmente, considero igualmente importantes.

Como já era tarde, minha esposa estava viajando e o sono havia saído e me deixado na mão, continuei com o exercício. E acho que consegui identificar em cada sentido, a mais antiga lembrança.

As minhas lembranças eu partilho abaixo. E você, já parou para tentar identificar essas lembranças? Posso dizer, por experiência própria, que a viagem vale à pena.

Se também quiserem compartilhar, sintam-se à vontade.



Olfato: cheiro da minha avó.

Paladar: torta de banana da minha mãe (nem é tão antiga assim... a lembrança).

Tato: colo da minha avó (a mesma do cheiro) e a mão da minha mãe (me dou ao direito de escolher duas nesse caso porque confesso que não consegui identificar a memória mais antiga).

Audição: o assovio do meu pai, que tinha um alcance absurdo e era o sinal para voltar para casa porque estava na hora de tomar banho.

Visão: um camping com muita gente e eu a caminhar bem... digamos... “naturista”.