quarta-feira, 31 de março de 2010

Um efusivo e saudoso abraço a Armando Nogueira

No último dia 29, Armando Nogueira partiu para rever Garrincha e nos deixou órfãos da leveza e singularidade maestrais com as quais tratava do mundo da bola. Dentre seus muitos feitos jornalísticos, o que mais me encanta é a forma simples e cândida como verseja sobre uma paixão tão rústica e densa - o futebol.

Os que o conhecem, sabem do que falo; os que não, têm uma boa oportunidade de experimentar algo novo.

Escolhi para homenageá-lo uma crônica que ele escreveu por ocasião dos 25 anos do falecimento de Nelson Rodrigues. O poeta da bola falando sobre o contista da mesma – achei pertinente a dupla homenagem, além do que não poderia deixar o Fluminense de fora.



"Nelson Rodrigues, 25 anos sem ele


Até os idiotas da objetividade têm saudades do maior cronista do futebol mundial


Há 25 anos, morria Nelson Rodrigues a quem sempre considerei o maior cronista esportivo do Brasil e do mundo. Nunca pretendeu ser um catedrático, um “expert” na matéria, mas ninguém jamais conseguiu ver o futebol com o olhar contemplativo, poético e apaixonado com que Nelson o viu durante mais de meio século.

Nelson era míope, enxergava pouco, mas tinha uma espantosa sensibilidade para recriar uma partida de futebol, dando-lhe tintas ora épicas, ora dramáticas, ora patéticas.

Uma explicação. A meu juízo, o jornalismo esportivo se divide em três categorias profissionais: o repórter, que lida com a informação, o comentarista, que se ocupa da análise dos fatos e, por fim, o cronista, que não tem maiores compromissos com a realidade.

Nelson tinha plena consciência do seu papel. Ele pouco se lixava para as verdades e versões em torno de um jogo ou de um jogador, de um gol, de um triunfo ou de uma derrota.

– Se os fatos estão contra mim, azar dos fatos... – era o que me respondia quando eu discutia com ele sobre futebol.

Confesso que levei muito tempo até perceber que Nelson tinha razão. Afinal, se não dá pra imaginar o futebol alheio à realidade dos fatos, muito menos dará pra imaginá-lo alheio à fantasia, que era o universo preferido por ele.

Era um otimista desvairado. Torcia pelo Fluminense. Pelo Fluminense distorcia, também. A seleção era, para ele, a pátria de chuteiras.

Cigarro ‘Caporal Douradinho’ entre os dedos, olhar manso, voz cansada, ele sempre me perguntava à saída do Maracanã: “E então, Armando, o que é que nós dois achamos do jogo?” A pergunta tinha apenas sabor de saudação. Ele não queria ouvir a opinião de ninguém. Preferia, sempre, a dele próprio, que não vinha do campo. Vinha de um sonho de 90 minutos. Nelson recriava o jogo, indiferente à realidade. Os fatos estavam contra ele? Pior para os fatos.

Via o jogo ao lado de Gravatinha. Pânico na área do Fluminense: beques vencidos, goleiro batido, a bola quase entrando no gol de Castilho. Um dedinho invisível desviava a bola pela linha de fundo, salvando o gol certo. Milagre do Gravatinha, ditoso personagem que ele criou para explicar as inexplicáveis vitórias do Fluminense. Era o almofadinha. O pó-de-arroz nato e hereditário.

O oposto do Sobrenatural de Almeida. Sobrenatural era o vago sinistro. Não torcia especialmente por ninguém. Tramava na pequena área, às vezes contra, às vezes, a favor.

Jogador do Fluminense não era gente como nós, de carne e osso. Era entidade. Cada um com sua aura. Rodrigo, atacante de parco futebol, revivia, no campo, Cid, o Campeador, herói espanhol do século XII. Assim, Nelson o retratava em sua crônica. Épico. Assim a torcida tricolor o saudava na rua e no estádio. O time do Fluminense, do goleiro ao ponta-esquerda, jogava de sandálias – as pungentes sandálias da humildade. Era a mitologia tricolor na prosa esplêndida de Nelson. Frases musicais. Metáforas sempre primorosas. Pérfidas, quase sempre. Eu mesmo amarguei a pena impiedosa dele. Nunca perdoou que eu tivesse descoberto na seleção húngara do Mundial de 54 uma equipe melhor do que a brasileira.

Nelson Rodrigues, amável carrasco do meu sensato amor pelo futebol. Passei a vida inteira para descobrir que ele tinha razão: o futebol não é nada sem o delírio, sem o doce desatino da paixão. Como a que ele viveu pelo Fluminense e pela Seleção."
 

segunda-feira, 22 de março de 2010

descrição da situação ao modo Tatiana de ser!!!

Agora ao modo Tatiana de ser !
Moro no mesmo apartamento, vi e revi essa história várias vezes ao longo desses quase 3 anos que estamos aqui...mas de tudo o que li, o mais representativo de tudo é a foto do macaco. Eu me vi naquele macaco !!!!! Não poderia haver uma foto mais ilustrativa da minha cara durante as idas e vindas de cada encanador ou pedreiro que esteve aqui...vou explicar com uma analogia e vcs me entenderão perfeitamente e tenho certeza que serão tão compreensivos qto eu e se passassem pela situação tbem se veriam naquele mico!!.


Pense na seguinte situação: eu, dentista, tenho um consultório. Vc, paciente, vai ao meu consultório e pede para restaurar um dente. Beleza, eu OLHO O SEU DENTE digo que será um procedimento simples e marco um horário para vc voltar. Tudo noos conformes.
No dia que marquei, vc sai mais cedo do trabalho, passa a maior lábia no chefe e diz que vai ao dentista e aproveitará para resolver todas as suas pendências naquela  tarde (vc já aproveitou para aumentar um pouquinho seu sofrimento porque, afinal, ida ao dentista é sempre um tormento, né, e seu chefe que já fez tratamento de canal sabe disso e foi super-solícito !). Então, vc planejou que sairia do meu consultório e aproveitaria p passar no shopping ou pagar contas... Nesse dia, com horário MARCADO, eu chego 2 horas atrasada! Vc já perdeu metade do seu passeio, mas enfim eu cheguei. Mando vc enrar com um sorriso cínico nacara de quem nem lembra que marcou com vc 2 atrás. Vc entra, senta na minha cadeira eu olho seu dente e digo: "vixe, acho que não tenho a broca certa, esqueci de comprar a broca. Mas não se preocupe, vou usar essa aqui mesmo que é quase a mesma coisa". Vc tá lá confiante, boca aberta. Daqui a pouco eu falo o seguinte "vixe, tá maior do que eu pensava... vou ter que abrir mais o seu dente porque naquele dia a luz do refletor não estava boa e eu não sabia que a cárie estava tão grande !” Vc não esperava por essa, afinal EU JÁ TINHA OLHADO SEU DENTE ANTES, começa a ficar incomodado e além disso já começa a duvidar da minha competência. Mas eu digo pra vc: "fica tranquilo, isso acontece muito”. Tenho certeza que na hora vc vai se perguntar se acontece muito ou se acontece muito COMIGO!!”

Continuamos mais um pouco, a luz do refletor apaga, não consigo consertar e portanto não enxergo seu dente direito. Começo a suspirar, levanto do meu mocho várias vezes procurando material pelo consultório, xingo a secretária de incompetente...até que te falo que não tenho a cor da resina que tinha que colocar no seu dente. Então, enfio uma massa cor de rosa provisória no tal dente, te mando para casa e marco com vc outro dia!” Detalhe, o dente que eu estou mexendo é o da frente !!! Tenho certeza que vc vai compreender que isso é perfeitamente normal, sua paciência e compreensão são infinitas e logicamente entende que esse nenhum dentista tem todo  material necessário à mão para qdo precisar. Além disso, com certeza seu chefe vai te liberar mais uma ou 2 tardes porque as coisas acontecem assim mesmo (e ele é o melhor chefe do mundo !!) !

Não?! Vc não entenderia?! Nossa, como vc é irracional!!!

Pois é,  algo mais ou menos assim acontece com os profissionais que a imobiliária manda para consertar as coisas nesse apartamento. O cara chega p consertar um cano e não traz chave-inglesa. Chega para arrumar uma descarga e não traz chave de fenda. Vem colocar um chuveiro e esquece a escada e a fita isolante! Além, é claro de nunca chegar no horário marcado.

E eles não entendem porque é que eu me irrito e pergunto se eles "sabem o que estão fazendo!?" Tbem não entendem porque eu faço cara de "miss-limão" qdo eles dizem simplesmente boa tarde!
Nunca conseguem resolver nada em um dia porque nunca trazem o material todo (ou em alguns casos: o mínimo!). E ainda tem a cara de pau de querer que eu fique em casa para que venham "A PARTIR DAS 13:00"... como entrega de loja: vc que espere a tarde toda e seu emprego que se ferre!!!!!!
Afinal, de quem é o dente, meu ou seu???????


domingo, 21 de março de 2010

Casa-escola

Não me entendam mal, considero louvável a arte de aprender com o ofício. Mas certas coisas têm um limite.

Este fim de semana, descobri o conceito de casa-escola. Vou tentar explicar.
Sabe aqueles serviços de casa que nós, na maioria das vezes, não fazemos por acharmos que a chance de fazermos merda é grande?

Pois é, “SEUS POBREMAS SE ACABARAM-SE!” Chegou a CASA-ESCOLA. A casa-escola é o lugar onde você aprende fazendo.

O apartamento em que moramos tem alguns problemas crônicos, no banheiro social, no banheiro de empregada, na cozinha, enfim... E conforme os anos foram passando, fomos descobrindo um a um. E invariavelmente os problemas foram se mostrando resultado deste conceito. Vou tentar ilustrar com o exemplo da última semana que se desenrolou no sábado.
Nosso banheiro do fundo apresentou um problema na descarga, ela disparou e não voltou mais. Fechamos o registro e aguardamos no sábado passado a visita do funcionário da imobiliária (quem acompanha o blog já deve ter ouvido falar da figura). Como esperado, ele não apareceu, não deu notícia e, na segunda, a funcionária da imobiliária ligou me pedindo desculpas. O funcionário dela alegou que havia perdido a hora e por isso não tinha aparecido. Ela se comprometeu, então, a mandar alguém durante a semana para adiantar o trabalho quebrando a parede e deixando tudo preparado para a troca no sábado seguinte.

Durante a semana, Sebastião veio, quebrou e adiantou o serviço. Marcamos o retorno dele para o sábado 8 horas da manhã para que eu pudesse estar presente sem prejudicar minha pelada às 10h.

Obviamente ele chegou às 8:45h. Pediu que eu fechasse a água rapidinho que em 10 minutinhos estaria tudo pronto. Chamei o administrador e fui junto com ele ao telhado fechar o registro geral. Quinze minutos depois, ao retornar, encontrei a Tatiana na cozinha soltando fumaça pela venta e com uma tromba enorme. Percebi que o chão da cozinha estava com azulejos e pedaços de tijolos quebrados. Também notei que conseguia enxergar, da minha cozinha, o banheiro de empregada e a cara do Sebastião lá dentro. Confesso que na hora procurei aquele miquinho da propaganda dos tubos Tigre. Acho, inclusive, que vi um cortando cebola pra Tatiana e outro espirrando em cima da geladeira por causa da poeira.

Perguntei o que havia acontecido. Sebastião respondeu que aquela descarga era das antigas, era grande e que ele teve que quebrar para conseguir tirar. Discretamente perguntei à Tatiana se outra pessoa tinha vindo durante a semana e ela disse que não, que era ele mesmo. Acompanhe meu raciocínio, se ele veio durante a semana pra deixar tudo quebrado e pronto para a troca no sábado, porque o infeliz não quebrou tudo logo de uma vez? Até porque a parte da descarga que seria trocada estava toda visível dentro do banheiro, ele não pode dizer que não viu que tipo de descarga era. Vem durante a semana e faz o quebra-quebra todo para adiantar ou não vem e faz tudo no sábado, certo?

Depois de instalar a nova descarga ele começou uma batalha para encaixar o cano novo. Ele comprou um pedaço de cano maior que o necessário e ficava tentando encaixar uma extremidade no cotovelo que dava para o vaso e a outra na nova descarga. Precisou de quatro tentativas para ele encontrar o tamanho certo para o encaixe. Vou tentar explicar a dinâmica: encaixa a parte de baixo, esquenta a outra extremidade, tenta encaixar na descarga, bate na lateral da mesma, desencaixa a parte de baixo serra um pedacinho e recomeça o ciclo. Entendeu?

Quando finalmente conseguiu e vedou tudo ele pediu que eu ligasse a água. Pedido atendido rapidamente. Retornei para ver o resultado e ele não conseguia fazer a água descer pela descarga. Testou a torneira da pia, água; testou o chuveiro, água; deu descarga, nada. Tive que ouvir: “Nunca vi isso acontecer. Você tem certeza que abriu a água?”
Deixe-me ver, retornei para a posição “Aberta” a mesma válvula que eu havia fechado 40 minutos antes. Água sai da torneira da pia, água sai do chuveiro... Abri a água, concorda comigo?

Fiquei parado na porta do banheiro assistindo ele apertar insistentemente a válvula (como aquelas pessoas que apertam insistentemente o botão do elevador como se isso fosse fazer alguma diferença). Fiquei me perguntando qual seria o procedimento mais óbvio a ser realizado caso eu, leigo, me visse diante daquela situação. Pensei, “Acho que afrouxaria aquele parafusinho do meio para deixar aquela mola mais solta e ver se faz alguma diferença”. Sem eu dizer uma palavra e cinco minutos depois de apertar incansavelmente o diabo da válvula sem sucesso, ele teve a mesma idéia que eu. Ação realizada, descarga dada, água fluindo normalmente.

Diante de mais este exemplo, entendi a função este apartamento na formação de alguns profissionais. Ele já serviu de aprendizado para futuros eletricistas, instaladores de boiler, encanadores, pedreiros, pintores e sabe-se lá o que mais.

Entendo que para se aprender com o ofício é necessário praticar e exercitar este ofício até que se consiga absorver a experiência e a bagagem de conhecimentos e habilidades necessárias para a função escolhida.

O que não entendo é por que todo mundo no Rio de Janeiro inventa de começar a aprender um ofício no apartamento onde moro!