domingo, 5 de julho de 2009

Equilíbrio

No dia 25/06, os jornais noticiaram com grande repercussão duas mortes, Farrah Fawcet e Michael Jackson. Compreensivelmente, a do segundo ofuscou o falecimento da pantera.
Mas o que me leva (com certo atraso, eu sei) a comentar o assunto, não é o pesar ou lamentar a morte de um ou de outro. Duas coisas me chamaram a atenção.
A primeira foi o fato de que em certos momentos somos forçados a encarar a nossa fragilidade de forma dura e seca. Se os heróis que enaltecemos, mesmo com todo seu poder, se vão, porque nós, simples mortais não iremos? Tem muita gente que ainda não engoliu a morte do Senna; e muitos ainda juram de pé junto que Elvis não morreu. São apenas dois de inúmeros exemplos de como é difícil aceitar a partida de pessoas que recebem de nós uma vestimenta de indestrutibilidade. Cientes de nossa mortalidade, presenteamos com essa vestimenta aquelas pessoas a quem julgamos ter alguma chance na busca pela imortalidade. E talvez por isso nos choque tanto quando alguma dessas pessoas se vai. Fica aquela sensação, ou frustração, de constatar que infelizmente, mesmo aqueles “escolhidos” também vão embora. Como diz meu tio: “Pra morrer basta estar vivo.”
A segunda coisa que me chamou a atenção foi a representatividade dessa nossa fragilidade nas duas perdas. Se por um lado temos uma mulher branca que perdeu uma batalha física contra um dos piores vilões do corpo humano; por outro temos um homem negro que perdeu uma batalha mental contra si mesmo.
Sem entrar nos méritos e deméritos de ambos, o que quero salientar aqui é que mais uma vez me vi diante daquele chavão que reza pela necessidade do equilíbrio. Passamos boa parte da vida adulta alimentando as necessidades físicas em detrimento das mentais. E, em determinado momento desse caminho (para uns mais cedo, para outros mais tarde), invertemos essas prioridades e passamos a não atender tanto as necessidades físicas. Isso me faz pensar que, talvez, tenhamos de nos policiar para racionalmente delimitarmos um equilíbrio na distribuição dessa atenção. Não podemos viver exclusivamente (ou quase que exclusivamente) para trabalhar, ou para a família, ou para estudar, ou para comer, ou para sair, ou para a academia, ou para qualquer outra coisa. Devemos, sim, viver para todas essas e outras coisas. Imagine uma pirâmide de cartas, se você ficar preocupado em posicionar e reposicionar repetidas vezes a mesma carta, a pirâmide eventualmente irá cair e você ficará com cara de tacho com a bendita carta na mão (e se bobear ainda vai xingar a carta!).
É fácil?
Não. Se fosse todo mundo fazia.
Será que eu consigo?
Provavelmente não. Mas não custa tentar.



Um comentário:

  1. Achei o comentário muito pertinente: "se até os escolhidos vão pq nós não iremos"...Acho que tenho que mastigar um pouco o texto e raciocinar sobre alguns pontos pra poder escrever uma coisa sensata e não apanhar por causa dos meus conceitos distorcidos. No entanto, sobre um aspecto tenho uma opinião arraigada: equilíbrio não existe. É tão ilusório qto felicidade eterna. Acho que a busca das duas coisas é muito desgastante. O equilíbrio, assim com a felicidade, oscila todo dia, todo mês, o tempo todo...são relativos. Nós mudamos o tempo todo e o que buscamos também muda. Então se num momento está perfeito, em breve já não estará. Tenta-se então achar outro tipo de felicidade e outro tipo de equilíbrio. Alguns podem julgar que seria culpa da superficialidade ou da falta de objetividade. Eu digo que é inerente ao ser humano ser oscilante pq podemos fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Podemos fazer muitas coisas ao mesmo tempo, mas não necessariamente fazer BEM tudo ao mesmo tempo. Um dia estamos mais dispostos a uma do que a outra.
    Por fim, em diferentes momentos teremos prioridades diferentes, algo a nos dedicar com mais afinco do que outras. Alguns anos serão para dedicação ao trabalho pq queremos dinheiro para ir a academia e ficarmos bonitos, outro momento será a família pq os filhos estão nascendo, e depois volta a ser o trabalho pq eles dão muitas despesas, em outro será a busca de saúde pq a idade tá chegando e os filhos já cresceram e a gente já se aposentou. E no fim, sempre chegaremos a conclusão que não dedicamos tempo suficiente para uma coisa ou outra pq simplesmente não a teremos mais ou pq mudamos de novo.

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