domingo, 23 de agosto de 2009

Ônibus



Em termos de transporte público, minha experiência com trens é muito pequena, só não é nenhuma porque em dois momentos precisei usá-los – para fugir de um alagamento e para visitar minha cunhada. Então prefiro me ater ao ônibus e ao metrô.
Em um grande centro como o Rio esse tipo de transporte além de fundamental no dia a dia, pode ser uma opção ao carro – dependendo de onde você queira ir. Diferentemente de um centro menor, onde esse tipo de transporte está associado a quem não tem carro ou não tem um puto pra pegar um táxi.
Eu, em geral, uso o ônibus para ir e voltar do trabalho, salvo algumas exceções em que volto de metrô. Para mim a experiência do ônibus é uma contradição em sua essência, do início ao fim.
A começar pelo ponto. O ponto tem um banco onde cabem, no máximo, 4 pessoas sentadas. Ele, pelo menos no Rio, em geral é coberto. O “teto” tem cerca de 1,5 m de largura e o comprimento do banco e um pouco mais. Se alguém cria um ponto de ônibus, identificado dessa forma e com essas características você espera o que? Que você possa se sentar (caso só existam 3 pessoas no ponto quando você chegar) e que você estará protegido da chuva (caso ela ocorra). Certo?... Errado.
Primeiro porque está sempre uma imundície. Segundo, porque se você imaginar que nesse 1,5 m de largura você tem que acrescentar o banco e a pessoa sentada nele (que estará com as pernas dobradas), o que vai te sobrar na verdade serão entre 15 e 30 cm, dependendo do estado de relaxamento da pessoa que estiver sentada. E mesmo que você tenha dado sorte e consiga se sentar, caso chova, você só estará protegido se a chuva cair de sem o menor ventinho, do contrário aquela cobertura só servirá pra proteger seu cabelo, porque do pescoço pra baixo ficará tudo molhado. Resumindo: existe um lugar pra sentar, que não dá pra sentar; e ele foi feito com uma cobertura pra te proteger, que não te protege.
Outra função do ponto é servir de referência tanto para o usuário, quanto para o motorista. Eu pergunto, quantas vezes você já pegou ônibus fora do ponto? Ou quantas vezes você precisou sair que nem um desembestado atrás daquele que passou pelo ponto e parou 50 m à frente? Ou quantas vezes você fez sinal, no ponto, e o ônibus passou direto? Resumindo: existe um ponto (de referência) que não serve de referência.
Quando você consegue entrar no ônibus, essas contradições continuam. Vocês já viram aquelas plaquinhas que ficam na frente, acima do motorista um pouco pra direita? Elas trazem algumas informações aos passageiros:
- Fale ao motorista o estritamente necessário
- Proibido fumar
- Proibido usar rádio (aparelho sonoro)
- Capacidade: 45 sentados/40 em pé (se não me engano)
Apesar disso, você conhece algum motorista que não converse com qualquer coisa que se mova ou estabeleça contato visual? Às vezes, para alguns deles, o simples fato de estar por perto, mesmo que imóvel e sem olhar, já é um bom motivo para iniciar uma conversa. Resumindo: fale ao motorista o estritamente necessário, “mas ele pode falar à vontade!”
Eu já entrei em ônibus em que o motorista fumava, já entrei em ônibus em que o motorista tinha um rádio ligado ao lado dele, já entrei em ônibus em que o motorista falava ao celular, já entrei em ônibus em que o motorista lia jornal. Em alguns momentos, confesso, cheguei a cogitar que aquelas placas de proibido eram apenas para os passageiros, e que o motorista poderia fazer o que bem quisesse. Resumindo: pode-se fazer o que está proibido pelas placas.
Quanto à capacidade, ninguém me convence que a capacidade informada é a real. Em relação aos passageiros sentados, pode até ser, porque é possível ver o número na placa e contar os assentos. Mas o número que eles informam de pé é praticamente impossível. Eu já fiz o teste de, em um ônibus muuuito cheio, tentar contar as pessoas em pé atrás da roleta. Sim, eu estava antes; sim, tem um aviso que diz que é proibido viajar antes da roleta; não, ninguém reclamou comigo e nem com nenhuma das outras 7 pessoas. Eu contei cerca de 33 pessoas, e tinha gente na escada e em locais em que não deveria ter. Ou seja, eles esperam que as pessoas que viajam em pé sejam magras, pequenas e não carreguem bolsas e mochilas. Só assim para se chegar perto da capacidade informada. Do contrário algumas pessoas precisarão ficar na escada ou antes da roleta para completar a lotação informada – o que é proibido e avisado no próprio ônibus. Resumindo: os ônibus, para viajar com a capacidade máxima, colocam as pessoas em locais onde eles mesmos informam que é proibido. O recado é: “Informamos que cabem X pessoas nesse ônibus, se fodam aí pra fazer caber.”
Se você tiver a curiosidade de saber como se sente um boi ou um porco que precisa ser transportado por caminhão de um local para outro, entre em um ônibus cheio, de preferência de manhã cedo, com um motorista que está atrasado em sua “corrida”. A sensação que tenho é que o cara tem a coxa do Jean-Claude Van Damme e dois pés direitos que são usados simultaneamente no acelerador e no freio. A força com que o cidadão golpeia os pedais e a rapidez da alternância entre um e outro deixaria o Bruce Lee de joelhos aguardando uma “finalização de Mortal Kombat” – e quando desço, a imagem que vem na minha tela é “Motorista Wins”. Resumindo: em teoria você teria de ser transportado com segurança; na realidade você é transportado e ponto final, se quiser segurança e conforto, vá de táxi.


E para descer é aquela incógnita: Será que ele para? Será que ele para razoavelmente perto de onde eu tenho que descer? Não é só o futebol que é uma caixinha de surpresas.
Enfim, essas são apenas algumas reflexões acerca das experiências contraditórias de se pegar um ônibus.
E então, minha vez de perguntar, qual a experiência mais curiosa você vivenciou ou a maior contradição que você vê no ônibus?



8 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. OI meu amor !
    Acho que vc está revoltado com nosso transporte público! Pq será???? Eu nao teho andado mais de ônibus (graças ao nosso carrinho !), mas no trânsito de carros também não educação, nem sinalização... acho que as fábricas deveriam ser processadas por vender tantos carros onde as setas não funcionam...
    Mas esse é outro assunto pra outro pôr-do-sol. Voltando à vaca fria... vc esqueceu de mencionar que além dos problemas citados somam-se: má conservação dos ônibus (na linha 665 há buracos no chão, sujeira (tirando as linhas da zona sul, nenhum ônibis tem sequer um lixinho) e calor (no rio de janeiro deveria ser proibido ônibus sem ar condicionado). Além disso a frota disponível é insuficiente para atender a demanda.
    Vou fazer uma contribuição para seu blog e escrever uma narrativa "carro X ônibus".
    bjk

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  3. quanta revolta!! O.O....vc tem q tirar essas coisas do seu coracaozinho meu cunhado!!!isso n faz bem, bom pelo menos esse blog serve pra um descarrego!! huhuhuuhuhhu
    Mas eu te entendo,de manha, para ir pra facul as vezes tenho q esperar ele rodar toda a ufscar pra depois eu descer no ponto que eu queria, ja q o ponto q eu pego e um dos ultimos e como as vezes desco no primeiro da ufscar, eh impossivel chegar ao fim do onibus sem encomodar a todos, e detalhe o motorista n espera, vc tem um curto tempo pra empurrar todos, brigar e correr ate a porta pra descer! o.o tenso!
    abracao

    Leônidas

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  4. Filho,
    Eu sei bem o que é isso! Agora que todo mundo tem celular você ainda é obrigado a escutar a conversa do motorista com a namorada...rs rs rs
    Além de não prestar atenção no trânsito e deixar qualquer passageiro com o coração na mão ele ainda te obriga a escutar: "Ai, desliga vc...Não... Vc primeiro..."
    Outro problema é o que eu estou notando agora por motivos óbvios: o lugar da gestante, do idoso e do deficiente está sempre ocupado por um cara de mais ou menos 20 anos que está sempre dormindo...
    Agora canta comigo:
    "Isso aqui ÔÔÔ..."

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  5. Rodrigo, meu amigo, essa é aquela hora em que vc tem q colocar a mão na consciencia e admitir pra vc msm: "Porra, to ficando velho e rabugento", hehehehehehehehheee

    Aliás, profundamente tendenciosa essa chamar o Jax de motorista. só pq era o unico negao do Mortal Kombat? Cuidado q isso pode acabar na justiça, hehehe

    abraço grande

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  6. Morri de rir com sua narração!
    E só me permiti dizer isso sem soar grosseira porque acabei de voltar de SP e tive que pegar o metrô (de mala e cuia) e fazer baldeação na Sé antes das nove da manhã.
    Não consigo me exprimir para dizer o que é isso em poucas palavras (Esse seria um tópico para meu próximo post, assim que conseguir tirar o horror de meu corpo e mente ... rs) Mas quem já passou por isso na Sé, entende perfeitamente meu terror!
    Viu? Garota do interior que só usa carro na vida também sofre essas coisas do eterno desrespeito ao cidadão!
    Que a força esteja com vc nesses momentos! rs

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  7. Ah, e vou fazer coro com a Tatiana: ir de carro é sentir vontade de descer dele e ensinar quase que esbofeteando o cidadão à sua frente, lado e atrás que não entende nada de trânsito.
    (Tenho até algo escrito sobre isso tamanha a minha revolta. [terapia da escrita para não fazer o que citei acima].Vou ver se acho aonde está!)
    Aguardo o post dela!
    Abraços!

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