domingo, 21 de março de 2010

Casa-escola

Não me entendam mal, considero louvável a arte de aprender com o ofício. Mas certas coisas têm um limite.

Este fim de semana, descobri o conceito de casa-escola. Vou tentar explicar.
Sabe aqueles serviços de casa que nós, na maioria das vezes, não fazemos por acharmos que a chance de fazermos merda é grande?

Pois é, “SEUS POBREMAS SE ACABARAM-SE!” Chegou a CASA-ESCOLA. A casa-escola é o lugar onde você aprende fazendo.

O apartamento em que moramos tem alguns problemas crônicos, no banheiro social, no banheiro de empregada, na cozinha, enfim... E conforme os anos foram passando, fomos descobrindo um a um. E invariavelmente os problemas foram se mostrando resultado deste conceito. Vou tentar ilustrar com o exemplo da última semana que se desenrolou no sábado.
Nosso banheiro do fundo apresentou um problema na descarga, ela disparou e não voltou mais. Fechamos o registro e aguardamos no sábado passado a visita do funcionário da imobiliária (quem acompanha o blog já deve ter ouvido falar da figura). Como esperado, ele não apareceu, não deu notícia e, na segunda, a funcionária da imobiliária ligou me pedindo desculpas. O funcionário dela alegou que havia perdido a hora e por isso não tinha aparecido. Ela se comprometeu, então, a mandar alguém durante a semana para adiantar o trabalho quebrando a parede e deixando tudo preparado para a troca no sábado seguinte.

Durante a semana, Sebastião veio, quebrou e adiantou o serviço. Marcamos o retorno dele para o sábado 8 horas da manhã para que eu pudesse estar presente sem prejudicar minha pelada às 10h.

Obviamente ele chegou às 8:45h. Pediu que eu fechasse a água rapidinho que em 10 minutinhos estaria tudo pronto. Chamei o administrador e fui junto com ele ao telhado fechar o registro geral. Quinze minutos depois, ao retornar, encontrei a Tatiana na cozinha soltando fumaça pela venta e com uma tromba enorme. Percebi que o chão da cozinha estava com azulejos e pedaços de tijolos quebrados. Também notei que conseguia enxergar, da minha cozinha, o banheiro de empregada e a cara do Sebastião lá dentro. Confesso que na hora procurei aquele miquinho da propaganda dos tubos Tigre. Acho, inclusive, que vi um cortando cebola pra Tatiana e outro espirrando em cima da geladeira por causa da poeira.

Perguntei o que havia acontecido. Sebastião respondeu que aquela descarga era das antigas, era grande e que ele teve que quebrar para conseguir tirar. Discretamente perguntei à Tatiana se outra pessoa tinha vindo durante a semana e ela disse que não, que era ele mesmo. Acompanhe meu raciocínio, se ele veio durante a semana pra deixar tudo quebrado e pronto para a troca no sábado, porque o infeliz não quebrou tudo logo de uma vez? Até porque a parte da descarga que seria trocada estava toda visível dentro do banheiro, ele não pode dizer que não viu que tipo de descarga era. Vem durante a semana e faz o quebra-quebra todo para adiantar ou não vem e faz tudo no sábado, certo?

Depois de instalar a nova descarga ele começou uma batalha para encaixar o cano novo. Ele comprou um pedaço de cano maior que o necessário e ficava tentando encaixar uma extremidade no cotovelo que dava para o vaso e a outra na nova descarga. Precisou de quatro tentativas para ele encontrar o tamanho certo para o encaixe. Vou tentar explicar a dinâmica: encaixa a parte de baixo, esquenta a outra extremidade, tenta encaixar na descarga, bate na lateral da mesma, desencaixa a parte de baixo serra um pedacinho e recomeça o ciclo. Entendeu?

Quando finalmente conseguiu e vedou tudo ele pediu que eu ligasse a água. Pedido atendido rapidamente. Retornei para ver o resultado e ele não conseguia fazer a água descer pela descarga. Testou a torneira da pia, água; testou o chuveiro, água; deu descarga, nada. Tive que ouvir: “Nunca vi isso acontecer. Você tem certeza que abriu a água?”
Deixe-me ver, retornei para a posição “Aberta” a mesma válvula que eu havia fechado 40 minutos antes. Água sai da torneira da pia, água sai do chuveiro... Abri a água, concorda comigo?

Fiquei parado na porta do banheiro assistindo ele apertar insistentemente a válvula (como aquelas pessoas que apertam insistentemente o botão do elevador como se isso fosse fazer alguma diferença). Fiquei me perguntando qual seria o procedimento mais óbvio a ser realizado caso eu, leigo, me visse diante daquela situação. Pensei, “Acho que afrouxaria aquele parafusinho do meio para deixar aquela mola mais solta e ver se faz alguma diferença”. Sem eu dizer uma palavra e cinco minutos depois de apertar incansavelmente o diabo da válvula sem sucesso, ele teve a mesma idéia que eu. Ação realizada, descarga dada, água fluindo normalmente.

Diante de mais este exemplo, entendi a função este apartamento na formação de alguns profissionais. Ele já serviu de aprendizado para futuros eletricistas, instaladores de boiler, encanadores, pedreiros, pintores e sabe-se lá o que mais.

Entendo que para se aprender com o ofício é necessário praticar e exercitar este ofício até que se consiga absorver a experiência e a bagagem de conhecimentos e habilidades necessárias para a função escolhida.

O que não entendo é por que todo mundo no Rio de Janeiro inventa de começar a aprender um ofício no apartamento onde moro!

Um comentário:

  1. Quase morri de rir!!!! Fantástico! Pena que o aprendizado se dá na casa de vocês!!!!!
    hahahhahahah
    Beijosssssssssss

    ResponderExcluir