quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Um minuto de silêncio

Quanto mais o tempo passa, mais eu percebo que o mundo para o qual eu e minha mulher trouxemos nossa filha está se tornando um lugar pobre. Pobre de pensamento, de reflexão, de tolerância, de respeito, de gentileza, de compreensão, de bom senso, de educação, de amor, enfim, pobre.

E nessa hora paramos para refletir o que nos leva a essa Mordor moderna. Por que em uma Era de informação na ponta dos dedos e de comunicação ágil galopamos como se não houvesse amanhã de volta à Idade Média?

Conversando com um amigo que se autointitula observador contemporâneo, ele levantou uma hipótese na qual ele defende que a resposta está na própria pergunta. O problema está no que é valorizado como diferencial positivo destes tempos – a informação fácil e rápida.

Para ele, a falta do mínimo de labuta na busca pela informação alimenta uma preguiça intelectual contagiante que leva as pessoas reproduzirem algo sem passar aquilo por qualquer tipo de filtro. Quando era preciso correr um pouco atrás da informação, esse tempo de deslocamento e busca permitia que as pessoas fizessem algum tipo de reflexão, por menor que fosse, sobre o fato, fala ou pensamento. Ou, durante a própria corrida, as pessoas esbarravam em outros elementos que as ajudavam a pensar e ter uma visão menos turva sobre o assunto em questão.

Portanto, tempo, meus caros, é do que as pessoas precisam. Não esse tempo otimizado que tentam nos empurrar goela abaixo. Mas aquele tempo de rolar um pouco mais na cama; de estender um pouco mais uma conversa que te enriquece no meio do dia; de rir de si mesmo ou para você; de almoçar sem tempo; de sair da rotina e elaborar uma surpresa para os seus; de sentar e pensar em nada e tudo ao mesmo tempo; de escutar a noite, ou o dia; de rever pela décima vez aquele filme; tudo isso sem culpa nem a rebordosa do dia seguinte.

Este mesmo observador esbarrou esses tempos com um livro em que Z. Bauman dizia: “Fugindo da solidão, você deixa escapar a chance da solitude: dessa sublime condição na qual a pessoa pode ‘juntar pensamentos’, ponderar, refletir sobre eles, criar – e, assim, dar sentido e substância à comunicação. Mas quem nunca saboreou o gosto da solitude talvez nunca venha a saber o que deixou escapar, jogou fora e perdeu.”

Amaldiçoamos a solidão na ânsia de valorizar o coletivo. No entanto, o coletivo, sem a reflexão e amadurecimento que a solidão proporciona, é vazio, pobre e não se sustenta. Os alicerces do todo se fragilizam, se corroem.

Antes desse amigo virar-se e ir embora me deixando no vazio, ele disse: “Será que renegamos a solidão em prol do convívio social, ou adotamos essa desculpa porque já não conseguimos olhar para nós mesmos e nem desfrutarmos de nossa própria companhia? Que ser sou eu que não consigo ficar a sós comigo mesmo? Se sou tão pouco suportável para mim, que convivo comigo mesmo desde sempre, o que eu tenho a agregar para o coletivo? Se não sirvo pra mim, como servirei para os outros?”


Foi, e me deixou ali, só... 


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