Quanto mais o tempo passa,
mais eu percebo que o mundo para o qual eu e minha mulher trouxemos nossa filha
está se tornando um lugar pobre. Pobre de pensamento, de reflexão, de
tolerância, de respeito, de gentileza, de compreensão, de bom senso, de educação,
de amor, enfim, pobre.
E nessa hora paramos para
refletir o que nos leva a essa Mordor moderna. Por que em uma Era de informação
na ponta dos dedos e de comunicação ágil galopamos como se não houvesse amanhã
de volta à Idade Média?
Conversando com um amigo que
se autointitula observador contemporâneo, ele levantou uma hipótese na qual ele
defende que a resposta está na própria pergunta. O problema está no que é
valorizado como diferencial positivo destes tempos – a informação fácil e
rápida.
Para ele, a falta do mínimo
de labuta na busca pela informação alimenta uma preguiça intelectual
contagiante que leva as pessoas reproduzirem algo sem passar aquilo por
qualquer tipo de filtro. Quando era preciso correr um pouco atrás da
informação, esse tempo de deslocamento e busca permitia que as pessoas fizessem
algum tipo de reflexão, por menor que fosse, sobre o fato, fala ou pensamento.
Ou, durante a própria corrida, as pessoas esbarravam em outros elementos que as
ajudavam a pensar e ter uma visão menos turva sobre o assunto em questão.
Portanto, tempo, meus caros,
é do que as pessoas precisam. Não esse tempo otimizado que tentam nos empurrar
goela abaixo. Mas aquele tempo de rolar um pouco mais na cama; de estender um
pouco mais uma conversa que te enriquece no meio do dia; de rir de si mesmo ou
para você; de almoçar sem tempo; de sair da rotina e elaborar uma surpresa para
os seus; de sentar e pensar em nada e tudo ao mesmo tempo; de escutar a noite,
ou o dia; de rever pela décima vez aquele filme; tudo isso sem culpa nem a
rebordosa do dia seguinte.
Este mesmo observador
esbarrou esses tempos com um livro em que Z. Bauman dizia: “Fugindo da solidão,
você deixa escapar a chance da solitude:
dessa sublime condição na qual a pessoa pode ‘juntar pensamentos’, ponderar,
refletir sobre eles, criar – e, assim, dar sentido e substância à comunicação.
Mas quem nunca saboreou o gosto da solitude talvez nunca venha a saber o que
deixou escapar, jogou fora e perdeu.”
Amaldiçoamos a solidão na
ânsia de valorizar o coletivo. No entanto, o coletivo, sem a reflexão e
amadurecimento que a solidão proporciona, é vazio, pobre e não se sustenta. Os
alicerces do todo se fragilizam, se corroem.
Antes desse amigo virar-se e
ir embora me deixando no vazio, ele disse: “Será que renegamos a solidão em
prol do convívio social, ou adotamos essa desculpa porque já não conseguimos
olhar para nós mesmos e nem desfrutarmos de nossa própria companhia? Que ser
sou eu que não consigo ficar a sós comigo mesmo? Se sou tão pouco suportável
para mim, que convivo comigo mesmo desde sempre, o que eu tenho a agregar para
o coletivo? Se não sirvo pra mim, como servirei para os outros?”
Foi, e me deixou ali, só...