Quando meu amigo Ben Kohn,
parceiro no Festival de Cinema do Rio, entrou em contato para me fazer uma
proposta de trabalho em setembro do ano passado eu jamais imaginava que a
proposta fosse participar de uma Copa do Mundo – e mais, uma Copa do Mundo no
Brasil! Fiquei lisonjeado com a lembrança e ao mesmo tempo ansioso para saber o
que faria e onde estaria.
Após algumas conversas
entendi que a empresa dele (hoje na Inglaterra) contrataria um grupo de
brasileiros para trabalhar como facilitadores (fixer) para as diversas equipes
da BBC de Londres que viriam fazer a cobertura da Copa. A instantânea
felicidade causada pela proposta foi quase que imediatamente contida pela
incerteza da minha disponibilidade para todo o período e certeza de que a
distância dos meus tesouros durante tanto tempo poderia ser um obstáculo grande
a ser superado.
Cálculos e negociações
feitas, faltava uma entrevista que seria feita com parte dos chefes da rede de
tevê em dezembro de 2013, no Rio. Aqui cabe um aparte. Durante todo o momento e
em todas as conversas eu tentava buscar ficar baseado no Rio, por algumas
razões óbvias e outras não tão louváveis. Morei no Rio, conheço a cidade, seus
caminhos, lugares, atalhos, então se era para atuar como “facilitador” para
alguma equipe, que fosse num lugar onde eu realmente pudesse fazer mais
diferença. Além disso, o fato de poder rever amigos, vivenciar a cidade, ter a
facilidade de poder trazer as meninas em algum momento para matar a saudade e a
possibilidade de estar numa final de Copa do Mundo no meu país também contavam
muito para essa tentativa de ficar baseado no Rio.
Viajamos para o Rio em
dezembro. Após o jantar do grupo com os responsáveis pela contratação, Ben
sentenciou: “Você tá dentro!”
Seis meses de ansiedade e
apreensão pelo que me aguardava anteciparam a viagem no dia 7/6, sábado, meu
primeiro dia de férias. Meu trabalho começou ao aterrissar em solo carioca.
Ainda no aeroporto conheci Felipe, motorista da van com quem trabalhei nos
primeiros 15 dias. De lá partimos para o Royal Tulip, em São Conrado, para
conhecer Stephen Lyle, produtor da equipe que faria a cobertura da seleção
inglesa durante a Copa. Havia descoberto o trabalho. Seria o facilitador da
equipe que estaria em todos os treinos, jogos e momentos da seleção durante
toda a Copa. Ok! Naquele momento era tudo que eu queria ouvir. Vivenciaria e
acompanharia uma das grandes seleções do torneio enquanto faria o meu trabalho.
Além de Steve, faziam parte
da equipe Andy (produtor), Ian (câmera), Scott (editor), Rob (engenheiro) e
Gabby (repórter). Tive muita sorte de cair no grupo que caí, por isso gostaria
de fazer outro aparte e falar um pouco de cada um, porque para mim essa troca
de experiências e interações são o que carregamos como enriquecimento. Vivemos
o momento, mas crescemos com as pessoas.
Stephen é casado e tem três
filhas. Ele é o responsável por essa equipe. É um cara muito gentil, observador
e tenta a todo tempo não interferir nos processos de cada membro da equipe.
Como ele mesmo diz, sua função é garantir o melhor ambiente, estrutura e
condição possível para que cada um faça o que sabe fazer da melhor maneira,
rendendo o máximo possível. Longas horas na van, algumas idas ao shopping e uns
dois jantares permitiram bons papos, troca de impressões, reflexões e uma
afinidade mútua, posso dizer. Certamente frequentaria minha casa.
Andy também é casado e pai
de um menino. O russo (como Felipe o identificava) é o responsável pela
criação/idealização das matérias que eles fariam. Por causa dele fiquei
conhecido na secretaria de cultura de Manaus, no Teatro Amazonas, na Pedra da
Gávea, na rampa de saltos de asa delta, no quiosque em frente ao hotel, no
Clube de Regatas Flamengo (experiência que precisarei de muito tempo para
esquecer) e em alguns outros locais. Em uns positivamente, em outros nem tanto.
É uma enciclopédia de futebol, um apaixonado pelo esporte capaz de comprar uma
camisa retro do Remo e ficar feliz. Boas conversas, boas histórias de quem
trabalha em sua quarta Copa.
Ian também é casado e pai de
um casal. Não é da BBC, já foi e hoje é freelancer. Continua com a BBC como sua
principal cliente. Há uns anos a BBC para reduzir gastos desmanchou uma parte
do departamento técnico e ele foi nessa onda. Com o dinheiro da rescisão comprou
seus próprios equipamentos e trabalha como freela hoje. Sujeito com humor mais
ácido, mas ao mesmo tempo bastante compenetrado e exigente no que diz respeito
ao trabalho. Carregava numa van pelo Rio cerca de 200 mil dólares em
equipamento. Demorou um pouco para que ele ficasse tranquilo nos deslocamentos
e quando a van precisava sair do seu raio de visão com algum equipamento dentro
(quase o mesmo tempo que eu). Tudo culpa do Toby (assunto para mais adiante).
Gente boa.
Scott é um solteiro
convicto, tem a minha idade e corre e pedala alucinadamente por competições
amadoras pela Europa. Estava se preparando há meses para uma prova de ciclismo
extremamente longa em agosto, para a qual está com tudo pago e reservado.
Chegou às 7h num voo noturno vindo da Inglaterra, deixou as malas no hotel,
trocou de roupa, saiu e correu 14km para tirar a moleza da viagem. Este ficou
que nem pinto no lixo, foi ao Barra Music, Lapa e pra vida noturna. Quando o
pegávamos no hotel para irmos para o estúdio montado no outro hotel onde estava
a seleção inglesa, ele estava sempre com cara de ontem. Semana passada durante
um futebol de areia deles na praia quebrou um osso do pé e parecia uma criança
quando descobre que Papai Noel não existe e que não receberá presente de Natal
naquele ano. Está andando de muleta e com o pé engessado desde então. Ele
também é freelancer e ficou muito preocupado quando sofreu a lesão com medo de
ser despachado.
Rob é casado e um pouco mais
velho que todos os outros. Foi com quem eu tive menos contato. Ele também é
freela e foi embora após a eliminação da Inglaterra quando a equipe se desfez.
Ele acabou voltando para trabalhar na final, desta vez contratado pela FIFA. É
um sujeito que quase não bebe, ele come com farinha. Impressionante. Além
disso, faz a melhor imitação do Al Pacino que já vi – hilário. E “fuck” é
vírgula pra ele.
Gabby é casada e mãe de um
casal de gêmeos. Para eles uma referência no cenário esportivo (seria uma
mistura da parte esportiva da Glenda com a notoriedade da Patrícia Poeta). Foi
ginasta e o pai é ex-jogador de futebol. Como não conhecia, não dei muita
importância, mas pensei “a equipe me pareceu tão maneira, que pena que agora
deve chegar uma repórter cocozinha e dar uma desequilibrada no clima”. Muito
pelo contrário, a mulher se mostrou super parceira da equipe, fala pra caramba,
carrega equipamento quando é preciso e acho que sacaneia mais do que qualquer
outro. Além disso, conseguiu me rebatizar de “Rodriguez” num de seus posts no
blog – uma odisseia atrás de uma chaleira elétrica, item de sobrevivência para
qualquer inglês. E ganhou minha simpatia de vez quando conseguiu com um dos
jogadores uma camisa oficial para me presentear pelo trabalho feito com a
equipe.
O trabalho, enquanto estive
com esta equipe, consistia em gerenciar o dia e as necessidades de cada um,
garantir a segurança de todos, gerenciar os deslocamentos para que tudo fosse
feito e não nos atrasássemos para nada. Então, de posse do cronograma de trabalho
eu organizava com o Felipe (motorista da van que estava conosco naquele
momento) os horários de chegada e saída de cada local. Em geral passávamos
pelos hotéis cedo pegando a equipe e os equipamentos e chegávamos em torno de
10h30 na Escola de Educação Física do Exército, na Urca. Um longo processo de
entrada, que incluía a mesma explicação para três equipes diferentes de guardas
e uma revista de carro e bolsas, foi se tornando mais simples com o passar dos
dias. No fim um “E aí parceiro!” acompanhado de um hang-loose já eram
suficientes com os guardas e um “How are you on this fine morning, Mr. Short?”
na revista nos davam acesso em menos de 3 minutos.
O centro de mídia na Urca
foi todo personalizado para a seleção inglesa, desde um mega escudo da Inglaterra
na parede externa a todas as paredes adesivadas com fotos dos atletas e
informações e mensagem dos patrocinadores. Tinha uma sala para coletivas, duas
salas de reunião, um salão enorme com duas mesas gigantes onde os jornalistas
passavam a maior parte do tempo fazendo seu trabalho. Imagens e áudio do treino
(o campo era aberto para alguma atividade ser filmada durante 15 minutos na
maioria das vezes) e das coletivas (que aconteciam após o fim dos treinos) eram
captadas e seguíamos de volta para o hotel onde ficavam o produtor e a repórter
e dois outros quartos serviam de estúdio. Em um eram feitas as edições e no outro
as entrevistas. Este hotel, Royal Tulip, foi o mesmo em que a seleção inglesa
montou sua base durante o torneio. Vale destacar que apões tantas exigências da
Federação Inglesa, ninguém no hotel estava com a menor vontade de ajudar
qualquer um que fosse da terra da rainha. E essa má vontade às vezes atrapalhou
bastante. A BBC, a ITV e a BBC rádio tinham três quartos um ao lado do outro que
serviam de estúdio para as entrevistas. Essas entrevistas com os jogadores,
técnico ou a comissão técnica aconteciam em horário determinado pela Federação
Inglesa e eram rigorosamente seguidos. “Hoje vocês terão Steve Gerrard, 18h10,
por dez minutos em cada estúdio.” E assim acontecia. O cara aparecia com o
assessor às 18h09 e tinha de estar tudo pronto e engatilhado. Ele era
entrevistado por 10 minutos, saía, entrava no outro estúdio, depois no outro, e
exatamente meia hora depois pegava o rumo dele.
Retornávamos da Urca em
torno de 14h. E o material feito ia para edição ao longo da tarde juntamente
com o material da entrevista da noite anterior. O dia terminava em torno da
22h. Paralelamente a isso aconteciam filmagens esporádicas em outros pontos para
composição de matérias que entrariam na programação antes dos jogos da
Inglaterra e as tarefas/missões que surgiam a qualquer momento, como: “Rodrigo,
sei que você não irá a Manaus conosco, mas seria possível gravarmos umas
tomadas no Teatro Amazonas?”; ou “Rodrigo, seria possível irmos a um local com
uma vista panorâmica deslumbrante da cidade?”; ou “Rodrigo, seria possível
arranjar um grupo de samba para fazermos uma tomada na praia às 8h30 da manhã
de amanhã, sábado?”; ou “Rodrigo, seria possível conseguir alguém que faz freestyle com a bola para fazer umas
tomadas?”; entre outras mais simples porém não menos trabalhosas. Vale
ressaltar que todas a missões dadas foram cumpridas e com louvor. Acompanhar
como isso é feito, o trabalho que dá, o pouco tempo para fazer e o resultado
que se tem é, sem dúvida, um aprendizado em vários sentidos.
Quando a Inglaterra viajava
para jogar e essa equipe seguia junto para fazer a cobertura, eu era deslocado
para acompanhar três técnicos para os jogos do Maracanã. Tínhamos de ir no dia
anterior ao jogo para preparar o equipamento e testar tudo, e no dia do jogo. Com
isso consegui estar presente e assistir aos jogos Argentina x Bósnia e Espanha
x Chile. O clima do estádio é contagiante. Não tem como não se arrepiar. O protocolo,
a entrada das equipes, o apito inicial, o gol, tudo é potencializado por se
tratar de uma Copa, e aqui, no nosso país. Para um apaixonado por esporte e
amante do futebol como eu, é uma experiência que só seria superada se eu
estivesse lá dentro do campo, devidamente fardado. E assim como aconteceu na
Urca, a frequência me permitiu conhecer algumas figuras no estádio que tornaram
minha vida mais fácil e menos complicada em termos de acesso a áreas restritas
e movimentação em dias de jogo.
Após a Inglaterra ser
desclassificada, fui deslocado para o International Broadcasting Center (IBC)
para me juntar à equipe de fixers e runners (os que estão conosco pelo menos
são universitários que basicamente fazem o mesmo trabalho que os fixers, têm as
mesmas responsabilidades e sofrem do mesmo jeito, mas têm outro nome e recebem
menos) que já estavam lá. No IBC ficam as bases operacionais das emissoras de
TV, rádio e internet do mundo todo que vieram cobrir o evento. Os galpões do
Riocentro viraram umas caixas gigantes compostas de várias caixas menores, os
escritórios das redes. O lugar é um melting
pot (para usar a expressão que uma professora adorava). São várias línguas
sendo faladas ao mesmo tempo, diferentes comportamentos e reações, enfim, para
quem gosta de conhecer “o outro” é um prato cheio. Além da possibilidade
iminente de você esbarrar com alguma figura conhecida, como Valderrama, Falcão,
Asprila, Dunga, Luxemburgo, Stoichkov, Maradona, entre outros. Aliás, fica a
dica, reconhecer algum desses no banheiro pode passar uma impressão estranha,
então, se isso acontecer, faça cara de samambaia, aguarde vocês saírem e
somente então faça o comentário que quiser.
Vários outros fixers e
runners ficaram ou no estúdio montado em Copacabana (suspenso sobre a Atlântica
com vista para o mar) que recebe os repórteres, comentaristas e ex-jogadores,
ou estão espalhados pelas outras cidades-sede. Uns ficaram baseados nessas
cidades como ponto de referência para as equipes que se deslocavam para cobrir
os jogos e outros viajavam com essas equipes.
Mas o grupo com o qual tive
mais contato é composto por dois fixers e dois runners. Também acho válido um
parêntese aqui.
Nick é o inglês mais carioca
que já vi. Intérprete e desenrolador-mor, é um cara que te conhece desde
pequeno no momento em que se apresenta a você. Tem muita história, saca muito
do que faz e se está do seu lado é o parceiro que você quer pra qualquer
parada.
Antonella é uma jovem senhora
italiana de cabelos brancos e fala mansa e carregada de sotaque a quem ninguém
consegue dizer não. É a gentileza personificada. Contagia pela alegria em todo
e qualquer momento, bastante ativa e disposta a ajudar. Seu abraço de bom dia
levanta o astral de qualquer um.
Gabriel, ou Gabe, é o
nordestino porreta que assumiu o Rio para si. Sabe onde tem, como chegar, qual
o melhor. Alô Produção! E o cara surge com as melhores dicas. O sotaque
inconfundível e a tolerância zero para alguns pedidos gringos me fazem rachar o
bico em alguns momentos. Caiu nas graças de quem manda e, consequentemente, nas
maiores furadas possíveis ao longo deste mês, desde resgatar fraldinha de gente
grande a gerenciar, debaixo de chuva e de madrugada, 30 aborrecentes da
comunidade para uma gravação da dança do passinho.
Bernardo, ou Bernie, me fez
restaurar a fé em uma geração que considero perdida (salvo uma ou duas
exceções). O garoto é descolado, super-responsável, ligado, antenado, dedicado,
tem consciência que o mundo não gira ao redor dele e ainda escreve bem.
Ficaria muito feliz em
reencontrar essa turma em outra oportunidade. Acho que nos demos bem e de certa
forma nos completamos formando um grupo bem heterogêneo, alto-astral e bastante
competente.
No IBC as tarefas variam,
mas não se tornam mais fáceis. Uma delas, o gerenciamento de vans e seus
horários, torna-se algo bastante complicado quando você passa a conhecer o
maravilhoso mundo dos motoristas. Esta é uma espécie que eu desconhecia até
então. Mas que com o passar dos dias você aprende a lidar e a prever e/ou
contornar os problemas que surgem decorrentes do modus operanti. Frases e expressões passam a ganhar novos contornos
e despertar diversos tipos de sentimento em você. “Deu ruim” é algo que você
definitivamente não quer ouvir de um motorista, dá calafrios. Não faz sentido
algum, não te permite contra-argumentar sensatamente, ou seja, te coloca num
beco sem saída em termos de conversação. “Tá tudo parado” também não é algo
bom, mas não há muito o que fazer quanto a isso estando no Rio. “Tô aqui” quer
dizer “Tô chegando”. “Tô chegando” quer dizer se prepara pra esperar pelo menos
30 minutos. Em geral, são pagos pelo dia mas agem como se estivessem fazendo um
favor que você pediu; reclamam quando não são usados; reclamam quando são
usados; falam pelos cotovelos; são folgados; e têm teorias sobre tudo e
soluções para todos os problemas do mundo.
Há muita pesquisa a ser
feita e ligações quando precisamos agendar um local de locação, de autorização
de filmagem ou alguma outra maluquice que eles inventam. E tudo é para hoje ou
amanhã. Nem sempre usam o que conseguimos, mas temos de cumprir a missão de
qualquer maneira. Então parecemos malucos com dois telefones na mão o tempo
todo, um da BBC que toca com alguma frequência e outro particular que usamos
para fazer as pesquisas que salvam nossas vidas quando não estamos na frente de
um computador com internet.
Ainda entre as atividades
realizadas, emprestamos nossos talentos, fazendo voice over em alguma matéria deles ou narrando em português algum
áudio que a Globo pediu rios de dinheiro para liberar. Nessas brincadeiras, fiz
a voz de um jogador da Itália falando do Buffon, a do Ronaldo na coletiva
falando sobre a lesão do Neymar e narrei um gol do Pelé na Copa de 1958. Em
duas das matérias emprestei a figura. Em uma fui o goleiro do Flamengo (pior
momento da carreira) numa reportagem sobre penalidades com Alan Shearer. Em
outra, era um leitor qualquer de jornais brasileiros no dia seguinte à catástrofe
do Mineiratzen.
Por falar em catástrofe,
hoje, após um mês mergulhado nessa viagem, digo com propriedade, e não
inocência, que escutar alguém falar em copa do mundo comprada chega a soar
leviano para mim. Digo isso não baseado na fé que tenho pela humanidade, mas
pela simples constatação de que por razões financeiras, se isso acontecesse,
alguém já teria aberto o bico e mostrado numa reportagem na Globo, CNN, BBC ou
no raio que o parta todo o processo. É muito dinheiro envolvido e investido,
não por parte da FIFA, governo e país sede, mas por parte das outras 31
seleções e redes de TV, rádio, internet e inúmeros países que investem numa
estrutura descomunal, deslocam milhares de funcionários e trabalham para levar
para a casa das pessoas tudo o que puderem em termos de informação e imagens.
Vou pegar um só exemplo. Não consigo ver a Inglaterra, com a estrutura que
montou, juntamente com a sua imprensa especializada, ser conivente e aceitar
ser eliminada na primeira fase de um torneio que estaria supostamente vendido
um ou outro país para ganhar um outro em 2026. E pirando um pouco, supondo que
a Inglaterra desse ok para isso, o que negociar com as outras 30 seleções???
Enfim, para mim parece desculpa de quem não sabe perder. Sabe aquele torcedor
chato do time adversário que sempre coloca a culpa no juiz, bandeira, chuva,
campo, enfim, terceiriza a derrota e não admite que perdeu nem por um decreto?
Então, esse tipo de Joselito.
Durante toda essa aventura,
aprendi muito sobre os ingleses e pude tirar a poeira do meu “bad English” como
eles se referem ao inglês americano. Aprendi novas expressões, palavras, alguns
comportamentos-padrão, mas, sobretudo, conheci um outro bastante diferente em
uns aspectos, mas muito parecido em outros. Pude finalmente ter discussões
ricas sobre football (como eles chamam) em vez de soccer, uma palavra que para
mim não deveria existir pois tira toda a magia do assunto.
A cortina começa a se
fechar. A ansiedade de antes de começar deu lugar à adrenalina do trabalho, que
por sua vez agora cede espaço para uma nostalgia precoce. A aventura está
acabando e a sensação é estranha. Por um lado, não vejo a hora de voltar pra
casa, pros meus amores, pra minha cama, descansar, ver a família e os amigos,
contar as histórias; por outro, já bate a saudade desse momento, da
experiência, dos contatos, do aprendizado e da rotina de acordar toda manhã,
montar em um tornado até o fim da noite, retornar para o hotel e aguardar o
tornado do dia seguinte. A saudade quase insuportável dos primeiros dez dias,
transformou-se em expectativa pela chegada, felicidade por tê-las perto,
tristeza pelo contratempo (nossa casa foi invadida e saqueada na noite após o
jogo Brasil x Chile), felicidade por tê-las por mais tempo que o previsto,
saudade novamente e expectativa para a chegada da segunda-feira, quando as
verei novamente.
Escrevo antes da final,
sinceramente espero que o jogo seja bom e vença quem jogar melhor hoje. Seria a
coroação de uma Copa que para a imensa maioria que trabalha há anos nesse
evento está sendo considerada a melhor dos últimos anos em termos de emoção,
qualidade, estrutura de trabalho, beleza e receptividade. Aprendemos muito, mas
também ensinamos muita coisa.
Glad you came! See you in Russia, mate!
Cheers!
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